No início deste mês de agosto, chegou aos cinemas de todo o Brasil um novo filme de terror que já é um dos longas que mais chamou atenção neste ano: ‘A Hora do Mal‘. Dirigido por Zach Cregger — que já ficou conhecido anteriormente com ‘Noites Brutais‘, em 2022 —, o filme vem liderando as bilheterias recentes no cinema, e recebendo avaliações bastante positivas dos fãs do gênero.
“Todas as crianças da mesma sala de aula, exceto uma, desaparecem misteriosamente na mesma noite e exatamente no mesmo horário. A comunidade fica se perguntando quem ou o que está por trás do desaparecimento”, narra a sinopse.
Ao longo da trama, acompanhamos a perspectiva de seis moradores da cidade em que a história se passa, Maybrook — entre eles, a professora em dificuldades Justine Gandy (Julia Garner), o pai atormentado Archer Graff (Josh Brolin) e o policial Paul Morgan (Alden Ehrenreich).
A partir dessas figuras, se reconstrói todos os eventos horríveis que cercam tanto os moradores de Maybrook, quanto o desaparecimento das crianças. Tudo isso, é claro, antes de um final completamente caótico que fornece respostas perturbadoras — e que também deixam muitas dúvidas — ao mistério que cerca a cidade. (Atenção: o texto contém spoilers do final de ‘A Hora do Mal‘)
A partir do ponto de vista de Justine, logo o primeiro ao qual somos apresentados, percebe-se que algo de suspeito acontece na casa do único aluno que não desapareceu de sua turma, Alex. Porém, isso só é confirmado, e também é revelado quem está por trás dos acontecimentos sinistros, a partir da perspectiva do diretor da escola, Andrew, e do próprio Alex.
Quando Justine relata ao diretor da escola que viu os pais de Alex congelados no sofá, em estado catatônico, pela janela da casa do garoto, ele concorda em chamar os responsáveis para uma consulta de bem-estar.
Quem aparece na ocasião, em vez disso, é uma mulher que diz ser tia do garoto, Gladys (Amy Madigan) — que aparentemente é a mesma senhora assustadora que vários moradores viram em flashes assustadores —, que acaba colaborando com as suspeitas.
Justine (Julia Garner) em ‘A Hora do Mal’ / Crédito: Reprodução/Warner Bros. Pictures
Marcus então insiste em falar com um dos pais do garoto na segunda-feira seguinte, mas Gladys aparece em sua casa no fim de semana, e lhe mostra quem realmente é: uma espécie de bruxa que coloca o diretor sob seu controle, e o faz matar a seu marido e atacar Justine.
Eventualmente, Marcus é atropelado por um carro enquanto perseguia Justine, e nesse momento Archer Graff, pai de uma das crianças desaparecidas, percebe que Justine de fato não era a vilã nessa história, como suspeitava.
O filme então corta para o ponto de vista de Alex, e descobrimos como foi a chegada de Gladys — na ocasião, em estado praticamente terminal — chegou à sua casa algumas semanas antes. Nesse momento, é revelado como ela colocou os pais de Alex em estado catatônico, e ameaçou o garoto para fazê-lo coletar os cartões de visita de todas as crianças de sua turma, para que pudesse convocá-las à casa de Alex e mantê-las presas no porão.
Não há grandes explicações do porquê Gladys quer prender as crianças no porão, mas ao que tudo indica ela é uma espécie de bruxa que só consegue se manter viva ao se alimentar da força vital daqueles que coloca sob seu controle.
Preparando-se para lidar com Archer e Justine, que estavam chegando para confrontá-la, Gladys coloca todos os adultos que manipulava — os pais de Alex, o policial Paul Morgan e o viciado em drogas James (Austin Abrams) — em posição para atacá-los quando entrassem na casa.
O confronto no clímax do filme se inicia, mas Alex consegue salvar o dia usando a própria magia de Gladys contra ela, incitando todos os seus colegas de classe a perseguirem-na. Em uma cena brutal, as crianças então a perseguem pela cidade, antes de destroçarem-na completamente.
Cena de ‘A Hora do Mal’ / Crédito: Reprodução/Warner Bros. Pictures
Por fim, uma narração revela que, passados os eventos, as crianças retornaram às suas casas, e algumas até conseguiram voltar a falar, nos dois anos desde o acidente. Os pais de Alex, no entanto, nunca se recuperaram, e o garoto passou a viver com uma tia diferente.
Quando questionado sobre o que queria explorar com o filme, Cregger disse à Playlist que “não estava tentando comentar ou mesmo explorar tragédias sociais coletivas”, como muitas leituras já propuseram. “Eu estava escrevendo puramente de um ponto de vista pessoal“.
“No entanto, com a arte e, especialmente, com a narrativa, o indivíduo é universal. Então, fico mais do que feliz se alguém se identificar com o que eu passei e com o que este filme está examinando, mas eu não estava pensando ‘Ah, América’ de jeito nenhum. Eu estava pensando ‘Ah, Zach’”, complementa o cineasta.
Ele também comentou à Enterteinment Weekly que o filme foi sua tentativa de processar a morte de um amigo próximo. “Tive uma tragédia na minha vida que foi muito, muito difícil. Alguém muito, muito, muito próximo de mim morreu repentinamente e, honestamente, fiquei tão arrasado que comecei a escrever ‘A Hora do Mal’, não por ambição, mas apenas como uma forma de lidar com minhas próprias emoções”.
Por fim, a revista Time pontua que o próprio título do filme — que originalmente, em inglês, é ‘Weapons’, que pode ser traduzido para ‘Armas’ — pode ser uma referência às formas como nós podemos ser usados como armas uns contra os outros. “Ouvi algumas pessoas explicarem por que [o nome é assim], e acho que elas estão certas”, disse o diretor à Vanity Fair. “Acho que tudo é legal”.
Éric Moreira é jornalista, formado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Passa a maior parte do tempo vendo filmes e séries, interessado em jornalismo cultural e grande amante de Arte e História.