A Coreia do Norte terá construído uma base militar secreta perto da sua fronteira com a China, onde poderá estar a armazenar os seus mais recentes mísseis balísticos de longo alcance.

A base de mísseis de Sinpung-dong localizar-se-á a cerca de 27 quilómetros da fronteira chinesa, segundo um relatório divulgado esta quarta-feira pelo Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), um think-tank com sede em Washington.

Segundo o CSIS, na base estarão entre seis a nove mísseis balísticos intercontinentais com capacidade nuclear, assim como os seus respectivos sistemas de lançamento.

Este armamento representa “uma potencial ameaça nuclear para o Leste Asiático e para o território continental dos Estados Unidos”, alerta o think-tank.

O relatório do CSIS, que afirma tratar-se da primeira confirmação da existência da base de Sinpung-dong, indica que esta é uma entre cerca de “15 a 20 bases de mísseis balísticos, instalações de manutenção, apoio, armazenamento de mísseis e de ogivas nucleares que a Coreia do Norte nunca declarou”.

A base de Sinpung-dong “não terá sido incluída em nenhuma das negociações de desnuclearização realizadas anteriormente entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte”, sublinham os investigadores.

Segundo as análises mais recentes dos especialistas do CSIS, os mísseis e sistemas de lançamento aí estacionados poderão ser deslocados em caso de crise ou conflito, integrando unidades especiais capazes de realizar lançamentos em locais menos detectáveis noutros pontos do território norte-coreano.

“Maior, mais disperso e mais resiliente”

O relatório sublinha que o arsenal nuclear da Coreia do Norte é maior, mais disperso e mais resiliente do que muitas avaliações externas supunham.

Assinala ainda uma mudança na estratégia de Pyongyang, que passa a apostar em capacidades de lançamento rápido, dificultando eventuais opções de ataque preventivo por parte dos Estados Unidos.

A instalação faz parte de uma rede de bases que “representam os principais componentes daquilo que se presume ser a estratégia em evolução da Coreia do Norte no domínio dos mísseis balísticos, bem como as suas crescentes capacidades estratégicas de dissuasão e ataque nuclear”, refere ainda o relatório.

A construção começou por volta do ano de 2004, e a base terá ficado operacional dez anos mais tarde, segundo o relatório. Mas o complexo parece ter estado a ser continuamente desenvolvido desde então.

Desde o fracasso da cimeira com os Estados Unidos em 2019, Kim Jong-un intensificou significativamente o programa nuclear do país. O líder norte-coreano tem apelado à “expansão rápida” das capacidades nucleares da nação, cada vez mais isolada no plano diplomático.

A cimeira entre Kim Jong-un e o então presidente norte-americano Donald Trump, realizada em Hanói, no Vietname, terminou sem acordo devido à divergência entre o que Pyongyang estaria disposto a ceder e as contrapartidas esperadas em termos de levantamento de sanções.


Desde então, a Coreia do Norte afirmou repetidamente que nunca desistirá do seu arsenal e declarou-se um “Estado nuclear irreversível”.

Proximidade com Moscovo

Esta semana, Kim disse que a única maneira de defender a segurança da Coreia do Norte é “fazer com que os inimigos tenham medo” das capacidades do país, “expressas através de acções práticas”.

Depois da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, Pyongyang tem vindo a estreitar relações com Moscovo. Segundo agências de serviços secretos sul-coreanas e ocidentais, a Coreia do Norte enviou mais de dez mil soldados para a Rússia em 2024, maioritariamente para a região de Kursk, bem como projécteis de artilharia, mísseis e sistemas de rockets de longo alcance.

Washington afirma dispor de provas de que Moscovo tem vindo a reforçar o seu apoio a Pyongyang, incluindo assistência no desenvolvimento de tecnologias espaciais e de satélite avançadas, em troca da ajuda militar prestada na guerra contra a Ucrânia.

Analistas recordam que os sistemas de lançamento de satélites e os mísseis balísticos intercontinentais têm em comum muitas das mesmas tecnologias de base.