O neurocientista Miguel Nicolelis, que já ganhou mais de 30 prêmios internacionais, iniciou sua pesquisa para entender melhor o cérebro humano há 39 anos. Em entrevista ao podcast ONU News, realizado pela sede brasileira da Organização das Nações Unidos, o especialista vê um risco das pessoas passarem a pensar como máquinas.
Segundo Nicolelis, o excesso de uso de telas e inteligência artificial (IA) no dia a dia pode configurar um regresso nas habilidades cognitivas.
“O meu grande receio, como a mente humana, o cérebro humano é um grande camaleão e ele se adapta a toda sorte de contextos e circunstâncias que o mundo lhe oferece para sobreviver, se o nosso mundo se transformar todo aqui fora e viver sob a lógica digital, o cérebro humano vai se adaptar a ele. Então nós vamos reduzir a nossa capacidade cognitiva, intelectual e inteligência ao nível dos sistemas digitais. É por isso que eu posso dizer que nós estamos caminhando rapidamente para criar milhões de zumbis digitais”, explica.
Para ele, o termo “inteligência” também não deveria se aplicar aos novos sistemas tecnológicos, já que a IA não é resultado de um processo de seleção natural nem artificial pois depende de pessoas para que continue a funcionar.
Além disso, durante a entrevista, o pesquisador também ressalta sua preocupação com a propagação de informações falsas baseadas em dados incorretos, porque as ferramentas de IA são “treinadas em dados não confiáveis da internet, cometem erros e alucinam”.
“Até a ciência está sendo invadida por esses fakes. Nós estamos vendo uma explosão de artigos falsos sendo publicados, um número explosivo de descobertas que não existem, que são relatadas como se fossem experimentos reais que foram realizados, mas não são, porque existe uma pressão muito grande de se publicar achados. Mas essa pressão agora está se transformando numa indústria de publicação de resultados científicos falsos. E nós, que trabalhamos como revisores desses artigos para as revistas, é uma dificuldade muito grande hoje em dia, descobrir o que é real e o que não é”, argumenta.
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