O Santa Clara está a ter dores de crescimento. E isso só acontece a quem tem o mérito de já ter conseguido algo e de pensar em alcançar ainda mais. Porque se estão a lutar por entrar, pela primeira vez na sua história, na fase liga da Liga Conferência, então é porque lograram, em primeira instância, selar o 5.º lugar no campeonato da época passada, e, já na presente temporada, ultrapassarem os obstáculos que tiveram pela frente nas duas pré-eliminatórias anteriores – Varazdin (Croácia) e Larne (Irlanda do Norte).

Porém, pelo meio desta caminha europeia, a formação orientada por Vasco Matos tem sentido dificuldades no início da Liga. Duas derrotas em dois jogos – Famalicão (0-3) e Moreirense (0-1) – podem explicar-se pelo excesso de partidas em pouco tempo, com a agravante de estarmos ainda numa fase inicial, mas a verdade é que, por uma ou por outra razão, a equipa parece algo anestesiada.

E este encontro com o Shamrock Rovers foi já o quarto consecutivo sem qualquer triunfo. Antes disso, os insulares haviam sido derrotados por Moreirense e Famalicão (como já sublinhado), mas também tinham empatado (0-0) com o Larne – valeu, neste caso, a vitória (3-0) clara da primeira mão.

Para se ter uma ideia da dimensão que o Santa Clara atingiu com Vasco Matos ao leme, esta é apenas a segunda vez que a equipa está quatro jogos seguidos sem vencer – acontecera o mesmo entre as rondas 22 e 25 da Liga da época passada, diante de Benfica (0-1), Estrela da Amadora (0-0), Boavista (0-1) e Moreirense (1-1). A excelência do trabalho é inegável, mas, por esta altura, é urgente haver uma reação imediata.

Que até parecia ter efeitos práticos nesta primeira mão do play-off. Os encarnados de Ponta Delgada dominaram quase toda a primeira parte e o golo de Vinícius Lopes, na sequência de um remate de Gabriel Silva que McGinty tinha negado, confirmou a supremacia insular. Porém, em cima do intervalo, o balde de água fria caiu em São Miguel, com Daniel Grant a empatar… contra a corrente.

Os britânicos ficaram mais cómodos para a etapa complementar, período em que o Santa Clara carregou em busca de nova vantagem. Que nunca surgiu. E a água foi ainda mais gelada quando Daniel Mandroiu apareceu no interior da área e rematou colocado para o 1-2 (66′). Isto já depois de dois golos (bem) anulados, um para cada lado – João Costa e Nugent.

Responderam os da casa, mas Gabriel Silva (69′), Paulo Victor (72′), Vinícius Lopes (73′) e Pedro Ferreira (81′) falharam o alvo.

A anestesia das dores de crescimento poderá ser resolvida com um belo scotch na próxima quinta-feira (20 horas), em Dublin. Se vais à Irlanda… sê irlandês. Porque está (mesmo) tudo em aberto.

O melhor em campo: Vinícius Lopes (6)

Ligado à corrente, especialmente na primeira parte, teve o mérito de aparecer no sítio certo para aproveitar uma bola que havia sido superiormente defendida por McGinty, após remate de Gabriel Silva, para, de cabeça, soltar a festa (ainda que de pouca dura) dos adeptos açorianos. Foi perdendo algum fulgor na etapa complementar, mas antes de sair ainda tentou bisar, com o remate a sair ao lado do poste.

As notas dos jogadores do Santa Clara:

Gabriel Batista (5), Sidney Lima (5), Luís Rocha (5), MT (5), Diogo Calila (5), Serginho (5), Adriano (6), Paulo Victor (6), Vinícius Lopes (6), João Costa (5), Gabriel Silva (6), Miguel Pires (5), Wendel Silva (5), Pedro Ferreira (5), Elias Manoel (5) e Matheus Pereira (-).

As notas dos jogadores do Shamrock Rovers:

McGinty (6), Cleary (5), Roberto Lopes (5), Grace (5), Grant (5), Watts (5), Healy (6), Nuggent (6), Honohan (5), Gaffney (5), Mandroiu (6), Burke (5), O’Neill (5), McEneff (-) e Barrett (-).

Estamos no intervalo da eliminatória e a equipa já demonstrou que consegue dar a volta. Esta é a nossa equipa, tem sido a nossa equipa ao longo dos últimos tempos. Vamos à Irlanda à procura de dar a volta ao jogo. Demonstrámos que somos uma equipa muito organizada, fomos muito competentes no jogo. Faltou-nos, se calhar, aquela pontinha de sorte, mas a equipa deu uma grande resposta. Acredito, sinceramente, que podemos ir à Irlanda e dar a volta à eliminatória.

Acho que mostrámos muitas qualidades que são precisas para ganhar jogos fora de casa na Europa. Nós sabíamos que o que produzimos no Kosovo [frente ao Ballkani] não seria suficiente aqui e que tínhamos de elevar os nossos níveis. Acho que fizemos isso, fomos bravos. Algumas posições causaram-nos problemas, mas em posse estivemos muito confortáveis. Sabemos que eles são uma equipa muito perigosa e vão demonstrar isso na próxima semana outra vez. Mas nós também sabemos que, em Dublin, podemos bater qualquer um. Isso será o nosso objetivo. Não vamos jogar com nenhum outro pensamento que não seja o de ganhar o jogo.

Notícia atualizada às 23h14