O câncer de pulmão continua sendo o mais letal no Brasil e no mundo. No país, cerca de 63% dos casos são diagnosticados em estágio avançado, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o que reduz as chances de cura. O cenário se agrava com os dados recentes do Ministério da Saúde: pela primeira vez desde 2007, houve aumento no número de fumantes adultos. Entre 2023 e 2024, a prevalência passou de 9,3% para 11,6% nas capitais e no Distrito Federal – um crescimento de 25%.
A campanha Agosto Branco, mês de conscientização sobre a doença, reforça três pontos centrais: prevenção, diagnóstico precoce e avanços nos tratamentos.
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Diagnóstico precoce
O câncer de pulmão pode evoluir de forma silenciosa, sem sintomas nos estágios iniciais. “Os principais sinais de alerta incluem tosse persistente, às vezes com sangue, falta de ar, rouquidão, infecções respiratórias recorrentes, dor no peito, perda de peso inexplicável, fadiga, fraqueza e inchaço do pescoço e do rosto”, explica o pneumologista Bruno Horta, coordenador do Serviço de Pneumologia da Rede Mater Dei de Saúde.
O rastreamento anual com tomografia de baixa dosagem é a principal estratégia para detectar tumores iniciais. O exame é indicado para fumantes e ex-fumantes entre 50 e 80 anos, pessoas expostas a poeiras minerais, produtos químicos e poluição, além daquelas com histórico familiar da doença.
Outro exame importante é a espirometria, simples e não invasiva, que avalia a função pulmonar. É recomendado para fumantes e ex-fumantes com mais de 40 anos, pessoas com sintomas respiratórios persistentes e trabalhadores expostos a poluentes.
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Tratamentos e avanços
Quando o tumor está restrito ao pulmão, a cirurgia torácica pode ser indicada. O procedimento é realizado após avaliação multidisciplinar, que pode incluir exames de imagem, como PET-CT e ressonância, além de testes que verificam a função pulmonar.
O cirurgião torácico da Rede Mater Dei, Daniel Bonomi explica que o procedimento é feito com técnicas minimamente invasivas, como a cirurgia por vídeo e a robótica. “A cirurgia robótica vem se consolidando como uma das opções mais seguras e eficazes, pois permite tratar casos complexos com maior precisão e ampliar o número de pacientes que podem ser operados com segurança, inclusive idosos e pessoas com comorbidades. Além de remover a lesão pulmonar, conseguimos retirar com mais presteza os linfonodos — estruturas importantes para avaliar a extensão do câncer. Isso representa um ganho real na qualidade do tratamento oncológico”, destaca.
A broncoscopia, segundo o especialista, também tem papel essencial: “ela pode ser usada tanto no diagnóstico quanto no planejamento cirúrgico e até em alguns tratamentos que permitem analisar os linfonodos e dar mais precisão ao estadiamento da doença”, esclarece.
As terapias sistêmicas também vêm transformando o tratamento. “Hoje contamos com medicamentos direcionados a alterações específicas do tumor e, em casos selecionados, a imunoterapia, que elevou significativamente a sobrevida de pacientes em estágio avançado”, afirma Paulo Henrique Diniz, oncologista da Rede Mater Dei.
Antes, muitos viviam menos de um ano após o diagnóstico. Hoje, vemos pacientes que ultrapassam cinco anos de sobrevida. Ele reforça que o diagnóstico precoce continua sendo decisivo: “nos estágios iniciais, muitas vezes a cirurgia é suficiente para alcançar resultados favoráveis. Já nos casos avançados, é preciso associar diferentes modalidades, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia”.
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Prevenção: tabaco e cigarro eletrônico
Apesar dos avanços, especialistas reforçam que a prevenção é o caminho mais eficaz. “Não fumar é o passo mais importante na prevenção do câncer de pulmão”, alerta Daniel Bonomi.
Os especialistas chamam atenção também para os riscos do cigarro eletrônico. “Embora vendidos como alternativa mais segura, eles podem causar dependência ainda mais intensa que o cigarro convencional, expõem o organismo a metais pesados e já foram associados a casos graves de lesão pulmonar aguda”, destaca o pneumologista.
“O cigarro eletrônico é uma estratégia da indústria para atrair pessoas que reduziram o consumo do cigarro. Dez minutos de vape podem equivaler ao consumo de dois maços e meio de cigarro”, complementa Paulo Henrique.