O Governo norte-americano está a analisar os mais de 55 milhões de estrangeiros detentores de vistos activos em busca de informações que possam levar à sua revogação, noticiou na noite de quinta-feira a Associated Press. O lote incluirá, para além dos cerca de 12,8 milhões de detentores de autorizações de residência permanente (o chamado green card) e dos cerca de 3,6 milhões estrangeiros com vistos temporários (de trabalho ou de estudante, entre outros), todos os restantes vistos concedidos a pessoas que podem não se encontrar de momento nos Estados Unidos, nomeadamente nos casos de vistos de turismo (que os cidadãos portugueses estão habitualmente isentos de requerer para curtas visitas de lazer ou negócios, embora sem entrada garantida).

Numa resposta a questões colocadas pela Associated Press, o Departamento de Estado detalhou que está a verificar a eventual existência de situações que justifiquem a anulação dos vistos, como a permanência nos EUA para lá do tempo permitido, delitos criminais e ainda participação ou apoio a qualquer actividade terrorista (o que, ao longo dos últimos meses, tem sido a justificação apresentada para revogar vistos de estudantes a pessoas que tenham participado em manifestações pró-palestinianas ou expressado o seu apoio à causa).

Serão desta forma alargadas a todos os detentores de vistos as medidas que já estão a ser aplicadas aos estudantes estrangeiros nos EUA, como a verificação de toda a actividade nas redes sociais.

Esta semana, o Departamento de Estado anunciou ter revogado mais de 6000 vistos de estudante desde o início do segundo mandato de Donald Trump, em Janeiro, justificando cerca de 4000 dos cancelamentos com infracções da lei e entre 200 e 300 revogações com o alegado apoio a organizações terroristas.

Redução histórica da imigração

As diversas medidas de restrição à imigração, legal e ilegal, implementadas durante a segunda era Trump, mas também no final do mandato do antecessor democrata, o Presidente Joe Biden, estão a ter já um impacto visível nos números da população imigrante dos EUA, revelou na quinta-feira o Pew Research Center. Entre Janeiro e Junho, a população nascida fora do país decresceu de 53,3 milhões de pessoas para 51,9 milhões.

É a primeira vez que a população imigrante cai nos EUA desde o final da década de 1960. O Pew relaciona a queda com as restrições à concessão de asilo aprovadas ainda em Junho de 2024 por Biden, que vieram reduzir o número de atravessamentos irregulares da fronteira com o México, bem como as 181 medidas de Trump para a área da imigração decretas nos últimos sete meses, incluindo as deportações em massa de estrangeiros em situação irregular, a proibição de entradas a nacionais de vários países, o fim das protecções legais para cidadãos de nações em conflito armado ou crise humanitária (incluindo a suspensão de admissão de refugiados), o aumento das cobranças por vistos, ou os convites e incentivos à saída voluntária de imigrantes.

A descida de 1,4 milhões na população imigrante desde Janeiro, não podendo ser justificada na sua totalidade com o número de deportações publicamente conhecido, sugere que está em curso uma contracção da imigração para os EUA e o abandono do país de parte dos imigrantes.

O Pew indica que os EUA continuam, contudo, a ter a maior população imigrante do mundo em números absolutos, ainda que não em termos relativos, onde estão atrás de países como a Alemanha, o Canadá ou os Emirados Árabes Unidos. As maiores comunidades imigrantes nos EUA são, segundo dados de 2024, oriundas do México (11,4 milhões de pessoas, e 22% da população imigrante), da Índia (3,2 milhões) e da China (3,0 milhões). Cerca de metade da população imigrante nos EUA, ou 52%, nasceu em países sul-americanos, com Cuba, El Salvador, Guatemala, República Dominicana, Colômbia e Venezuela como origens dos principais contingentes, a seguir ao México. Outros 27% nasceram na Ásia, 10% na Europa e 5% na África subsariana.

Quanto à situação legal da população imigrante, e de acordo com dados de 2023, 73% das pessoas nascidas no estrangeiro a residir nos EUA eram imigrantes legais, e mais de metade destas obtiveram entretanto a cidadania norte-americana. A população imigrante em situação irregular constituía 27% do contingente total, ou 14 milhões de pessoas, um número recorde, segundo o Pew, que terá continuado a subir em 2024 e começado a cair em 2025.