Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, classificou este domingo a Federação Russa como a parte envolvida na guerra na Ucrânia que sempre privilegiou a resolução do conflito “através de meios políticos e diplomáticos”, ao contrário do Governo ucraniano e dos seus aliados ocidentais, que, acusa, tornaram esta estratégia “impossível”, ao recusarem dialogar com Moscovo.
“Já dissemos várias vezes que é melhor para nós fazermos isto [acabar com o conflito] através de meios políticos e diplomáticos. A operação militar especial [a fórmula usada pelas autoridades russas para descreverem a invasão da Ucrânia] continua porque esses meios se tornaram impossíveis, depois de todas as propostas de diálogo terem sido rejeitadas, tanto na Ucrânia como no Ocidente”, denunciou Peskov, citado pela Tass.
A determinação da Rússia em continuar a guerra de larga escala, lançada em Fevereiro de 2022, no território do seu vizinho, é de tal ordem que o porta-voz de Vladimir Putin recusou responder a uma pergunta de um jornalista sobre o futuro das relações entre Moscovo e Kiev num cenário de pós-conflito.
“Essa é, neste momento, uma questão teórica. Primeiro, temos de resolver o problema e assegurar o cumprimento das tarefas da operação militar especial”, afirmou Peskov à agência estatal russa.
Apesar das pressões (e das ameaças de sanções) da Administração Trump para que o Presidente russo inicie um processo negocial credível para acabar com a guerra e da disponibilidade de Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, para se encontrar com Putin para esse mesmo efeito, o Kremlin mantém-se irredutível nas suas exigências e recusa suspender ou parar as hostilidades enquanto Kiev e os seus aliados não as aceitarem.
Moscovo reivindica cerca de 20% do território ucraniano para a Rússia, incluindo as regiões de Lugansk, Donetsk, Zaporijjia e Kherson (anexadas em 2022) e da península da Crimeia (em 2014). Para além disso, exige a desmilitarização da Ucrânia, a proibição da entrada do seu vizinho na NATO e a saída de Zelensky do poder.
O Presidente ucraniano recusa estas propostas, mas quer negociar, para já, um cessar-fogo incondicional.
A prova da indisponibilidade de Putin para abdicar dessas exigências é o facto de, para além de ter autorizado uma nova ofensiva no Leste da Ucrânia, ter enviado delegações compostas por figuras com pouco peso político no aparelho de Estado russo para as três rondas de negociações que tiveram lugar, recentemente, em Istambul, na Turquia.
Na última delas, realizada na passada quarta-feira, o foco esteve em trocas de prisioneiros e noutras questões laterais do conflito.
Zelensky chegou a desafiar Putin a encontrar-se pessoalmente com ele numa dessas reuniões, em Maio. E voltou a fazê-lo, esta semana.
Na sexta-feira, porém, Peskov disse que um eventual encontro entre os dois chefes de Estado só poderá acontecer se for um passo final para um acordo de paz. E acrescentou: mas as posições dos dois lados são “diametralmente opostas”.