A polícia federal de investigação dos Estados Unidos, o FBI, está a conduzir buscas esta sexta-feira na residência de John Bolton, antigo conselheiro de segurança nacional de Donald Trump, durante o primeiro mandato do Presidente norte-americano, e agora um dos mais proeminentes críticos, à direita, do actual chefe de Estado. Segundo fontes judiciais dizem ao New York Times, está a ser executado um mandado do tribunal no âmbito de uma investigação a suspeitas de posse e partilha de informação classificada para lesar a imagem do Presidente, embora Bolton não esteja de momento, segundo noticia a CBS, acusado de qualquer crime. As buscas decorrem na sua casa em Bethesda, no estado norte-americano de Maryland, e também num escritório de Bolton na capital, Washington D.C.
As alegações são antigas, tal como é o conflito entre Trump e Bolton. A primeira Administração Trump tentou travar, ainda em 2020, e em vão, a publicação de The Room Where It Happened, um livro de memórias de Bolton sobre a sua passagem pelo anterior executivo republicano, em que o ex-conselheiro descreve múltiplas transgressões e conflitos de interesses do, agora, actual Presidente. Na altura, o Governo argumentou que Bolton teria violado acordos de confidencialidade ao não solicitar as devidas autorizações para abordar matéria classificada. Mas o caso não teve seguimento do ponto de vista criminal, tendo sido arquivado durante a era Biden. É agora reaberto.
Bolton, figura da linha dura da ala neoconservadora e intervencionista do Partido Republicano, integrou os executivos de Bush pai e filho, tendo sido um dos protagonistas da campanha política que visou justificar a invasão norte-americana do Iraque, em 2003, então como sub-secretário de Estado para o controlo de armamento, defendendo a tese não comprovada de que o regime de Saddam Hussein possuía um programa activo de armas de destruição maciça que representaria um risco iminente para os EUA e os seus aliados. Foi embaixador norte-americano junto das Nações Unidas, ainda sob George W. Bush, e manteve-se como uma figura relativamente influente, em questões de política externa, entre os republicanos – um “falcão” que advoga intervenções armadas e o derrube de regimes adversários, sobretudo o do Irão.
Voltaria ao Governo já com Trump, em 2018, ocupando durante pouco mais de um ano o cargo de conselheiro de segurança nacional: Trump diz que o demitiu, Bolton afirma que a decisão de sair foi sua. Eram evidentes a divergências de fundo entre o Presidente isolacionista e o diplomata intervencionista. Tornou-se num aguerrido crítico de Trump desde então, declarando publicamente que não votaria no candidato republicano logo nas presidenciais de 2020, escrevendo no referido livro que “uma montanha de factos prova que Trump não tem qualificações para ser Presidente”, e disponibilizando-se para testemunhar contra si durante o processo de impeachment relativo à campanha de pressão sobre a Ucrânia.
Em Janeiro, ao regressar à Casa Branca, Trump revogou as credenciais de segurança de Bolton e retirou a escolta que protegia o antigo conselheiro e a respectiva família de ameaças de morte feitas pelo regime iraniano.
“Ninguém está acima da lei”, escreveu esta sexta-feira, nas redes sociais, o director do FBI, Kash Patel, que incluiu Bolton numa lista de inimigos, de “membros do deep state”, num livro publicado em 2023. “A segurança da América é inegociável. A justiça será aplicada, sempre”, escreveu por seu turno a procuradora-geral norte-americana, Pam Bondi.
Trump, questionado pelos jornalistas, disse não estar a par das diligências do FBI, mas fez questão de dizer que não era “um fã” de Bolton: “Ele pode ter uma enorme falta de patriotismo. Vamos descobrir.”