Os clubes de leitura têm se espalhado com vigor pelo Brasil, abarcando desde reuniões despretensiosas de um punhado de entusiastas até projetos mais estruturados que reúnem milhares de pessoas em torno da literatura.

Não é novidade tampouco que esses clubes têm presença majoritária de mulheres, que são 61% das pessoas que compram livros no Brasil, conforme pesquisa recente da consultoria Nielsen.

O que está se estruturando agora é o trabalho da rede Favo, que começou a se articular há poucos meses buscando conectar essas experiências, oferecendo capacitação de mediadoras —haverá um curso nessa linha em 4 e 11 de setembro—, melhor acesso a autoras e editoras e também espaço de troca e acolhimento para as leitoras.

Entre as articuladoras do projeto estão Manuela d’Ávila, que ficou conhecida como política do PC do B, saiu da vida partidária e há quatro anos tem um clube de leitura popular; editoras como Rita Mattar, da Fósforo, e Stéphanie Roque, da Companhia das Letras; e profissionais como Luciana Gerbovic e Janine Durand, que trabalham há anos com fortalecimento do acesso e mediação da leitura no país.

A reunião virtual mais recente das interessadas no projeto aconteceu há poucas semanas. As organizadoras esperavam que aparecessem cerca de 50 pessoas que organizam clubes ao redor do Brasil —fecharam as inscrições com 110.

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A ideia, segundo d’Ávila, é “prover para essa rede um conjunto maior de possibilidades”, ao aproximar as iniciativas de diferentes tamanhos e regiões brasileiras. “Os clubes hoje têm diferentes acessos a autoras, a debates com especialistas, a descontos em editoras.”

Além disso, ela vê um forte potencial nessas redes como espaços de cuidado e organização, considerando a ampla presença feminina nesse tipo de encontro. “Os debates sobre feminismo podem ser tão ou mais profundos em torno de uma obra literária que em um curso de formação feminista.”

Janine Durand, já responsável por projetos robustos de clubes de leitura em penitenciárias, por exemplo, aposta na capacidade do diálogo horizontal para construções coletivas que desemboquem em melhores políticas públicas locais —seja uma nova feira ou uma biblioteca na sua cidade— ou mesmo nacionais.

Ela também aponta que a rede é tocada por mulheres, tem sua carta de princípios escrita no feminino e se atenta ao acolhimento a elas, mas está aberta a homens interessados. “Qualquer homem que chegar vai ser muito bem acolhido desde que entenda que o movimento está sendo capitaneado por quem já o capitaneia.”

Ao fim e ao cabo, o clube de leitura é um espaço de encontro e reflexão. “As pessoas gostam de estar neles porque se conectam com a beleza da manifestação da arte literária e, assim, vão repensando o próprio mundo”, diz Durand.


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