Há um novo caso de peste nos Estados Unidos. Um residente em El Dorado, na Califórnia, testou positivo para a bactéria Yersinia pestis – há milhares de anos responsável por algumas das maiores pandemias da história. Hoje, esta bactéria refugia-se em pulgas e transmite-se aos humanos através da picada destes insectos infectados. Terá sido assim, diz um comunicado dos responsáveis de saúde do município de El Dorado, que esta pessoa foi infectada, enquanto acampava junto ao lago Tahoe.

Não é um caso único. Todos os anos, indicam os Centros de Prevenção e Controlo de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, há, em média, sete casos de infecção com a bactéria que provoca peste negra no país. Em Julho deste ano, no estado do Arizona, uma pessoa morreu infectada por esta bactéria – a primeira morte por peste desde 2021 nos Estados Unidos.

Até agora, a infecção com esta bactéria, que se transmite de animais para humanos, dá origem a três diferentes tipos de doença: peste bubónica, a mais comum e que provoca sintomas similares a uma gripe e um inchaço forte nos nódulos linfáticos; a peste pneumónica, associada aos pulmões e a mais virulenta das três; e a peste septicémica, a menos frequente e cuja infecção se desenrola no sangue. A pessoa do Arizona que morreu em Julho tinha peste pneumónica. Neste caso em El Dorado, não foram dados detalhes sobre o tipo de doença.


Embora seja famosa por ter dado origem a três das mais famosas pandemias que atacaram os humanos – peste justiniana (século VI), peste negra (século XIV), e “terceira pandemia” (século XIX) –, hoje a situação é bem distinta. Perante os sintomas e análises, é fácil de detectar a infecção com Yersinia pestis, tal como temos antibióticos capazes de tratar a peste se for diagnosticada atempadamente.


A esmagadora maioria dos casos agora registados pertencem à peste bubónica – os outros casos são da pneumónica. Além dos Estados Unidos há infecções com esta bactéria no continente africano (sobretudo Madagáscar, que tem surtos sazonais da doença) e, menos recorrentemente, na Ásia e na América do Sul. A Organização Mundial da Saúde considera a peste uma “doença reemergente”, sobretudo em zonas rurais e sem cuidados de saúde apropriados e próximos. Sem tratamento adequado, a infecção resulta em taxas de mortalidade elevadas.

“A peste está naturalmente presente em muitas zonas da Califórnia”, referiu Kyle Fliflet, director interino de saúde pública do município de El Dorado, citado em comunicado. As precauções são as mesmas que se usam para evitar ter pulgas: estar atento à presença de roedores e prevenir o “salto” das pulgas para animais de estimação.


As pulgas infectadas com esta bactéria mordem humanos através de animais como cães, coelhos ou outros roedores – são o seu veículo de transporte. Apesar de tudo, esta é uma infecção muito característica de zonas rurais, como alguns estados norte-americanos, onde a doença circula naturalmente na vida selvagem – entre os quais Arizona e Califórnia. Na Europa, não há casos de peste há mais de meio século.

A infecção com Yersinia pestis não é inócua, mas os tratamentos identificados e a raridade da doença – entre 1000 e 2000 casos anuais em todo o mundo – mostram que não apresenta o perigo de outros séculos, como nos anos 1300 em que matou dezenas de milhões de pessoas na Europa.