O fogo que ali começou a 13 de agosto será, provavelmente, o maior de sempre em Portugal e os seus efeitos devastadores foram registados pelo bombeiro de Cabanas de Viriato. Quando não está a bater-se contra as chamas ou a dar resposta a outras emergências, Pedro, de 42 anos, gosta de fotografar. “É um hobby” que o acompanha desde sempre e que, por estes dias, tem resultado em imagens avassaladoras.
O antes e depois da histórica aldeia, que o bombeiro publicou nas redes sociais, foi partilhado vezes sem conta, num gesto de “tristeza” que dispensa palavras. “Desolador”, resume um dos seguidores. E há muito mais para ver: o vermelho dantesco do fogo refletido no céu da Serra da Estrela, as densas nuvens negras do incêndio na Pampilhosa da Serra vistas do Monte do Colcurinho e o preto a perder de vista na Serra do Açor. Tudo registado “nos tempos mortos” e de descanso, entre o caos dos últimos dias.
“Tem sido muito cansativo para os operacionais. No dispositivo, quase todos os elementos são voluntários, usam as férias para estar ali”, contou Pedro, garantindo que não há quem vista a camisola de bombeiro “por dinheiro”. São eles, os operacionais, que dão vida ao quartel. “Não são a ajudas que temos. Não é o que devia sustentar os bombeiros que os sustenta”, assegurou, referindo que, neste verão, passaram por todos os grandes fogos.
Fotos: Pedro Mateus
“Uma família” em “várias frentes”
As horas de trabalho num só dia esticam-se “para que todos possam descansar também”. “No fundo, somos uma família, temos de cuidar uns dos outros”, explicou, notando que, apesar de todo o esforço, é impossível “estar em todo o lado”.
“Os bombeiros, além de estarem nos incêndios, têm de estar em várias frentes ao mesmo tempo. Temos de estar na saúde, nos serviços programados, nas consultas, nas urgências, é uma logística complicada”, reconheceu.
A imagem dos últimos anos
Foto: Pedro Mateus
Partilhada mais de mil vezes, a fotografia do desalento e cansaço de um colega de Pedro numa floresta totalmente destruída é quase o resumo das dificuldades enfrentadas pelos bombeiros a cada ano que passa. O instante não foi captado agora, é certo, mas podia ter sido.
“Tirei essa foto em Oleiros, em 2020. Estávamos num incêndio e, num momento de descanso, vi o meu colega assim e gostei do contraste das cores com aquele cenário de destruição”, referiu. Palavras para quê?