Investigadores da Uppsala University demonstraram que um modelo de IA consegue identificar, em biópsias prostáticas inicialmente avaliadas como negativas por patologistas, padrões microscópicos associados a cancro clinicamente significativo, permitindo sinalizar casos de risco muito antes de a doença ser visível ao olho humano

A utilização de inteligência artificial (IA) em patologia permitiu identificar sinais precoces de cancro da próstata em amostras de tecido consideradas negativas por especialistas humanos. A equipa da Uppsala University, em colaboração com a Umeå University, aplicou um método de aprendizagem automática a biópsias recolhidas no âmbito de convocações periódicas de rastreio, concluindo que o algoritmo detetou indícios de doença em mais de 80% das amostras de homens que, posteriormente, desenvolveram cancro agressivo. O trabalho foi publicado na revista Scientific Reports.

O estudo abrangeu 232 homens cujas biópsias prostáticas tinham sido avaliadas como isentas de malignidade por patologistas. No seguimento, menos de dois anos e meio depois, metade dos participantes desenvolveu cancro da próstata de evolução agressiva; os restantes mantiveram-se livres de doença durante oito anos. Este desfecho permitiu distinguir, a posteriori, dois grupos com trajetórias clínicas contrastantes a partir de material histológico inicialmente semelhante do ponto de vista humano.

Para contornar a ausência de áreas marcadas como tumorais nas lâminas originais, os investigadores treinaram o sistema de IA com uma estratégia de múltiplas instâncias: cada imagem de biópsia foi decomposta em pequenas regiões e o modelo aprendeu a associar padrões subtis às amostras provenientes de doentes que vieram a desenvolver cancro agressivo, assumindo que esses indícios estariam presentes algures nessas lâminas, mas ausentes nas restantes. A performance foi depois verificada num conjunto independente de imagens.

Segundo Carolina Wählby, professora na Uppsala University e responsável pelo desenvolvimento do componente de IA, “o estudo foi apelidado de ‘missed study’, porque o objetivo — encontrar o cancro — foi ‘perdido’ pelos patologistas. Mostrámos agora que, com a ajuda da IA, é possível identificar sinais de cancro da próstata não observados por patologistas em mais de 80% das amostras de homens que mais tarde desenvolveram a doença”. Ao analisar os padrões que o modelo considerou mais informativos, a equipa observou alterações no estroma que rodeia as glândulas prostáticas — modificações reportadas também noutros trabalhos — sugerindo que a IA capta mudanças tecidulares prévias à manifestação de lesões evidentes.

Os autores apontam que esta abordagem poderá apoiar decisões sobre a calendarização do seguimento de homens inicialmente classificados como saudáveis, priorizando vigilância mais apertada nos casos com assinatura tecidular suspeita. Os dados de imagem e os métodos utilizados foram disponibilizados publicamente para investigação e desenvolvimento adicionais.

Referências: Chelebian E, Avenel C, Järemo H, Andersson P, Bergh A, Wählby C. Discovery of tumour indicating morphological changes in benign prostate biopsies through AI. Sci Rep. 2025 Aug 21;15(1):30770. DOI: 10.1038/s41598-025-15105-6

Imagem: A imagem mostra uma biópsia original (esquerda) e uma biópsia com código de cores (direita). As cores quentes na imagem com código de cores mostram padrões anómalos que indicam cancro. Foto: Carolina Wählby

NR/HN/AlphaGalileo

Outros artigos com interesse: