Desde que lançou Cães de Aluguel e explodiu com Pulp Fiction, Quentin Tarantino passou a ser um dos diretores mais referenciados do cinema moderno. Novos cineastas, produções menores, todos procuram encontrar a fórmula perfeita para repetir o sucesso do homem por trás de Kill Bill e Bastardos Inglórios. A verdade é que poucos conseguem chegar perto e a grande maioria acaba utilizando o estilo de Tarantino como gimmick para vender sua história. Motorista de Fuga, estrelado por Samara Weaving, fica no meio do caminho.

A atriz vive Edie, uma ex-motorista de fuga, que deve voltar aos trabalhos do passado quando seu antigo chefe lhe oferece a chance de salvar a vida de seu ex-namorado não muito confiável (Karl Glusman). Edie ainda tem uma ligação forte por John, que ganha ainda mais importância quando descobre que está grávida. Para salvar o amado, Edie terá que roubar um carro com três milhões de dólares de dentro de um cassino. A sinopse é perfeita para o “efeito Tarantino” citado acima. Mafiosos, planos de roubo e fuga, dois personagens conversando dentro de um carro… Shawn Simmons, um dos criadores de Continental, série spin-off de John Wick, checa cada um desses pontos em sua história e nunca esconde as referências a Bonnie & Clyde. 

Quando o diretor volta seu interesse mais ao relacionamento entre Edie e John e menos ao que rodeia a história dos dois, Motorista de Fuga escapa do óbvio. A ação e o suspense viram tempero na trama que encontra um ponto de atenção na toxicidade do relacionamento. A sombra do passado e dos laços com a família batem à porta de Edie o tempo inteiro. Agora, livre para poder seguir em frente, ela precisa parar tudo para ajudar John. Esse ciclo vicioso vai levar os dois a atitudes extremas que elevam a parte final da história. Uma pena que até lá, o filme pareça apenas comum.

Acostumada aos personagens que se apossam de sua expressividade, com seus grandes olhos azuis, Samara Weaving acerta mais uma vez na construção da protagonista que parece frágil, mas logo se mostra capaz de encarar até um ex-jogador da NFL – Marshawn Lynch, que continua sua carreira de ator aqui. Samara convence nas cenas de direção em alta velocidade, mas dá um passo além do esperado quando Edie e John precisam encarar seus demônios. A presença de Karl Glusman, do ótimo Observador, é um reforço para a dupla. John é o típico cafajeste. Carismático e igualmente enervante, ele está pronto para colocar tudo a perder ao longo do filme todo, mas em poucos segundos consegue seduzir Edie e o espectador, nem que seja com uma dancinha ao redor da mesa de sinuca. Aliás, é praticamente impossível não lembrar de Michael Madsen, em Cães de Aluguel, nesse momento.

Falta ao filme mais foco no que realmente importa. A relação dos dois e a carga negativa de um dos lados nunca parece realmente importar para a história a não ser no ato final, quando apresenta uma reviravolta. O diretor ainda pincela aqui e ali – especialmente quando o assunto é a gravidez da protagonista – as ideias sobre relacionamento abusivo e dependência emocional. O próprio Andy Garcia, que faz o ex-chefe de Edie, entra nesse bolo, com uma revelação abrupta no fim da história, que parece estar lá apenas para chancelar decisões tomadas momentos antes.

No clube dos que buscam ser o grande-novo-Tarantino, Motorista de Fuga não é o exemplar mais brilhante. É um meio termo. Uma dramédia de suspense e ação, que mistura todos esses gêneros, sem entender seu grande potencial, mas que ao menos diverte e cativa com a força da dupla de protagonistas.

Motorista de Fuga

Eenie Meanie

Ano:
2025

País:
EUA

Duração:
95 min

Direção:

Shawn Simmons

Elenco:

Karl Glusman
,
Samara Weaving

Onde assistir: