Pelo menos 35 militares russos destacados para combater na Ucrânia terão estado envolvidos num esquema de fraude em que se feriam uns aos outros para conseguirem prémios em dinheiro e condecorações, avança a imprensa russa. Ao todo, os envolvidos terão conseguido receber ilegalmente mais de 200 milhões de rublos (cerca de 2,1 milhões de euros) com a fraude.
As autoridades militares começaram a investigar os indícios de crime depois de terem recebido o testemunho de um soldado denunciando os esquemas de registo fraudulento de ferimentos com o intuito de conseguir prémios.
O site Meduza, meio de comunicação independente russo, nomeia pelo menos dois altos cargos militares envolvidos neste caso: o coronel Artem Gorodilov, formalmente acusado de fraude, e o seu subordinado, o tenente-coronel Konstantin Frolov, que, além de fraude, está acusado de suborno, tráfico ilegal de armas, munições e dispositivos explosivos, depois de ter sido encontrado um depósito secreto de armas em Lugansk. Ambos admitiram a sua culpa e acabaram por testemunhar contra o resto dos seus companheiros da Brigada de Assalto Aéreo n.º 83. Estão detidos desde o Verão de 2024.
Entretanto foram identificadas pelo menos 35 pessoas que também terão participado no “acordo” para conseguir prémios e condecorações indevidas. Alegadamente, tinham sido feridos durante operações de combate. No entanto, soube-se, posteriormente, que as suas feridas foram auto-infligidas para receberem férias e tratamento preferencial durante o seu internamento. Além disso, os seus superiores submetiam depois candidaturas para medalhas e condecorações dos supostos feridos em combate, como a Ordem da Coragem e medalhas de bravura – prémios que os investigadores militares acreditam que foram atribuídos de forma ilegítima e ilegal.
Frolov, por exemplo, terá sido ferido sete vezes durante a guerra, no entanto, os investigadores descobriram que em todas as situações os ferimentos foram causados pelos seus companheiros de armas a seu pedido. Recebeu por causa dessas cicatrizes de guerra várias condecorações: quatro Ordens de Coragem e duas medalhas de bravura, embora não se sabendo ao certo quantas corresponderam aos ferimentos fraudulentos.
Soube-se, também, que várias das histórias que contava e que chegaram aos meios de comunicação russos eram, na verdade, falsas. De acordo com os investigadores, foi mencionado numa reportagem onde alegava ter liderado o “grupo mais eficiente de snipers” russos na Ucrânia. Ou noutra em que dizia que, depois de ferido pela sétima vez, pediu para regressar imediatamente ao teatro de operações porque “a honra de oficial a isso obrigava”. Dizia, também, ter adoptado uma menina resgatada de um abrigo ucraniano. Tudo falso, acreditam os investigadores.
Terá sido Frolov que testemunhou contra Gorodilov. O coronel, por sua vez, terá sido considerado responsável pelas mortes de civis ucranianos na região de Kiev. Antes de ter sido destacado para a Brigada n.º 83, comandou o regimento de assalto aéreo n.º 234, que terá estado envolvido no massacre de Bucha, em 2022, onde foram descobertas pelo menos três valas comuns de corpos que mostram sinais de terem sido alvo de torturas macabras.
Ambos pediram para serem enviados de volta para a frente de batalha em vez de esperarem pelo julgamento, no entanto, os pedidos foram rejeitados.