Dada a alta qualificação dos seus agentes, ativar o Grupo de Operações Especiais era algo que só deveria acontecer em situações-limite. Momentos em que não houvesse mais nenhuma alternativa, porque se tinha atingido um pico de gravidade. “O GOE, como qualquer estrutura anti-terrorista, para além de combater alta criminalidade, violenta, grave, etc, é criado exatamente para combater o terrorismo, que era — e pode continuar a ser — equacionada como a situação mais grave à segurança de um país”, garante o Coronel Francisco Rodrigues, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT).  “Foi criado e foi treinado, preparado, exatamente para poder resolver este tipo de situações, situações inicialmente de terrorismo e de alta criminalidade, violenta, grave.” Por isso mesmo, e apesar de responder diretamente ao comandante-geral da PSP, o Grupo de Operações Especiais só podia ser acionado com a autorização expressa do Governo e do primeiro-ministro.

Cerca de três horas depois do início do atentado à Embaixada da Turquia, o GOE chegou finalmente ao terreno. A concentração foi feita à frente do Estádio do Restelo, onde receberam as ordens para o ataque. Foram divididos em dois grupos: um ficava responsável pela entrada na chancelaria (onde estavam vários dos funcionários da embaixada, surpreendidos pelo ataque naquela manhã de verão), o outro iria diretamente para a zona de perigo – a residência onde os terroristas estavam barricados.

Ao todo, seriam 30 agentes. Alguns ficaram de parte, destacados para fazerem de atiradores furtivos nos telhados dos edifícios à volta. Fontes ouvidas pelo Observador, que estiveram presentes na resposta ao Exército Revolucionário Arménio mas preferem permanecer anónimas, garantem que neste tipo de situações – seja a curta ou a longa distância – só há uma opção: disparar para matar. Na luta contra o terrorismo, cada combate direto é de vida ou de morte.

Depois de receberem as últimas indicações, os elementos do GOE partiram para a Avenida das Descobertas, onde encontraram já um forte dispositivo de segurança montado pelas autoridades, composto por centenas de polícias. O primeiro grupo chegou em dois jipes, com 12 homens prontos a saltar a qualquer momento. Vinham vestidos com uniformes camuflados e coletes à prova de bala e traziam as caras cobertas com gorros de lã preta, apenas com os olhos à vista.

Nesse altura, o primeiro andar da residência já estava a arder. Tinha sido ouvida uma forte explosão, por volta do meio-dia, e desde então os terroristas estavam em silêncio. Não havia informação nenhuma. Nem sobre eles, nem sobre Manuel Pacheco, o agente da PSP que tinha entrado sozinho na casa, à revelia das ordens do comando.