Mas a feira no Campo de Santa Clara muito mudou desde esse tempo, reflete. “Há muitos mais turistas, muito menos coisas vintage ou verdadeiramente antigas, mas continuo a vir aqui e à Feira da Vandoma, no Porto, que quando mudou de localização também mudou a sua natureza”, lamenta.
Num café de nome inglês, gente de roupas frescas e chinelos saboreia o sol, acompanhada por tostas de abacate ou pratos tão genéricos quanto o menu. Preferimos o vizinho, mais modesto, com cadeiras e balcão de metal. Luís pede uma “meia de leite” em bom português.
Apanhamo-lo em Portugal de férias, explica, a recuperar energias entre os filmes e projetos de televisão dos quais é responsável pelo guarda-roupa. Acabou um ciclo de meses a trabalhar numa série para a HBO, It: Welcome to Derry, uma prequela do filme baseado no livro de Stephen King, e aproveita os últimos dias na capital antes de subir até São João de Loure, no distrito de Aveiro, onde tem a casa que era dos avós maternos. “Não tenho família direta, mas tenho amigos lá desde esse tempo”, partilha.
Já com uma dose de cafeína, percorremos a feira a pé, um par de horas a vaguear sem a pressão do tempo. Cada banca é um quadro em miniatura, com tecidos dobrados, objetos esquecidos, relíquias que piscam à luz do dia. Vendedores de discos e cassetes despejam canções que nos atropelam em ondas sucessivas. Sobre todas, ergue-se I Want to Know What Love Is, o êxito dos Foreigner que marcou 1984.
Andamos sem um percurso definido, contornando o Panteão Nacional. Ao atravessar a feira, explica-nos que a inspiração para qualquer figurino que produz parte sempre do argumento. Começa então a imaginar as personagens com a roupa, o ambiente e é a partir daí que tudo se desenvolve.