Deixar de ir ao banheiro, vez ou outra, pode ser um problema e tanto. Para muitos, isso é um hábito comum, especialmente quando relacionado às fezes. No entanto, é preciso estar em alerta quanto aos sinais de constipação, sobretudo com as dores que aparecem com o quadro. A ausência de seriedade sobre o assunto é o que leva, em inúmeros casos, ao agravamento da condição.

Conhecido popularmente como prisão de ventre, a constipação intestinal é caracterizada pela dificuldade em evacuar, seja por fezes duras e ressecadas, seja por redução na frequência das evacuações — geralmente menos de três vezes por semana. Landwehrner Lucena, cirurgião-geral e coloproctologista do Hospital Anchieta, afirma que a constância não é o único fator associado.

“Há, também, dor e desconforto durante as idas ao banheiro, além da sensação de evacuação incompleta. Em alguns pacientes, há necessidade de esforço excessivo para eliminar as fezes. Não se trata apenas de frequência, mas também da consistência das fezes”, detalha.

Segundo o profissional, certos grupos são mais propensos à constipação. Mulheres, especialmente durante a gravidez ou a menopausa devido a alterações hormonais; idosos, por causa da redução da mobilidade e do uso de medicamentos; crianças, particularmente em fase de desfralde ou com dietas inadequadas; pessoas com deficiências; e indivíduos com condições que afetam o bem-estar psicológico estão entre os mais vulneráveis.

Sintomas

Romulo Almeita, médico coloproctologista do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, ressalta que evacuar com esforço extraordinário, fezes endurecidas, fezes em bolotas e sensação de que não evacuou completamente estão entre as queixas mais constatadas.

Grupos vulneráveis

Segundo Romulo, pacientes de algumas doenças neurológicas, pessoas com necessidades especiais, como cadeirantes, paraplégicos e tetraplégicos, assim como os indivíduos acamados e com limitação dos movimentos, estão, também, entre os grupos que podem apresentar problemas ligados à constipação.

Impactos negativos

As pessoas constipadas têm alteração da qualidade de vida devido ao esforço para evacuar, tais como dor e inchaço no abdômen, risco de doenças anais, como hemorroidas e fissura anal, sangramento anal e a necessidade de extração das fezes com lavagens ou até a retirada manual por profissional médico.

Saúde intestinal

Especialista em nutrição esportiva, Maria Catarine Camargo descreve que alimentos fontes de fibras insolúveis, como mamão, aveia, psyllium, chia, linhaça, laranja e outras fontes de ômega, a exemplo de abacate e tâmaras, também são grandes aliadas da saúde intestinal.

Alerta necessário

Alimentos com fibras solúveis, como arroz branco, banana, caju, maçã, tapioca, batata-doce e também outros alimentos, como leite em pó e mandioca, podem agravar os sintomas das pessoas constipadas, conforme explica Maria Catarine.

Mais fatores

De acordo com o Instituto Oncoguia, a constipação é um sintoma presente em pessoas com câncer, sobretudo o colorretal, que provocam obstrução no intestino, causando dificuldade em evacuar as fezes.

Palavra do especialista

Por que e como esse quadro de constipação aparece?

A constipação surge, principalmente, devido a fatores como dieta pobre em fibras, baixa ingestão de água, sedentarismo e mudanças na rotina, que tornam o trânsito intestinal mais lento. Outras causas incluem o uso excessivo de laxantes, alguns medicamentos para dor e antidepressivos, problemas hormonais (como hipotireoidismo), doenças neurológicas ou obstruções intestinais. O que leva a esse ressecamento é a demora das fezes em passar pelo cólon, o que causa uma reabsorção da água das fezes fazendo elas ficarem endurecidas e dificultando a passagem.

Quais as formas de tratamento contra a constipação?

O tratamento começa com mudanças no estilo de vida: aumentar a ingestão de fibras (frutas, vegetais e grãos integrais), beber pelo menos dois litros de água por dia, praticar exercícios regulares e estabelecer horários fixos para evacuar. Em casos leves, algumas medicações podem ser utilizadas temporariamente. Para constipação crônica, algumas terapias para fortalecer os músculos pélvicos ou, em situações graves, cirurgias para corrigir obstruções podem ser indicadas.

Quais as complicações que esse quadro pode apresentar?

Se não tratada, a constipação pode levar a complicações como hemorroidas, fissuras anais, prolapso retal, impactação fecal (acúmulo de fezes endurecidas no reto) e, em casos extremos, diverticulite ou obstrução intestinal. Além disso, o esforço crônico pode causar problemas cardiovasculares em idosos, como aumento da pressão arterial durante a evacuação.

Landwehrner Lucena é cirurgião geral e coloproctologista do Hospital Anchieta

Eduardo Fernandes Repórter Jr

Jornalista formado pela Universidade Paulista, estou no Correio Braziliense há dois anos. Antes, na Editoria de Cidades, agora, como Repórter da Revista do Correio.