O conceito de regeneração que está a ser posto em marcha na TDF passa por desenvolver a terra para que esta possa sustentar mais vida, explica. “Trabalhamos com funções essenciais: retenção de água, biodiversidade, captura de carbono, redução de resíduos e minimização de recursos externos. Criámos áreas de retenção de água com valas e lagoas, aplicamos princípios de permacultura e sistemas agroflorestais para produzir alimentos a partir de florestas em vez de campos, capturando carbono e criando habitats ricos. Já plantámos mais de 100 espécies de árvores, garantindo um ecossistema resiliente que restaura o solo, infiltra mais água e atrai vida selvagem”, descreve Samuel Delesque.
Segundo explica, “estamos a restaurar o ciclo hidrológico local, retendo toda a água da chuva no terreno para recarregar aquíferos e, este ano, pela primeira vez, não extraímos água de poços, elevando a água subterrânea de 20 metros (ano passado) para cerca de três metros de profundidade”. Foi criada um agrofloresta, que produz alimentos, abriga a fauna e é resiliente à seca e ao fogo. Por último, foi desenvolvida uma horta no-till, método que evita revolver o solo, de forma a preservar e melhorar a sua estrutura, e vai arrancar uma produção de 200/300 quilos de cogumelos por semana.
A eco-tecnologia
Todo este processo de ligação à natureza e recuperação de habitats naturais tem na tecnologia a origem do financiamento. A TDF é um espaço de experiência na interseção entre natureza, tecnologia e comunidade, diz. Na eco-aldeia, são usadas ferramentas como o Open Forest Protocol e a biodiversidade é monitorizada por eDNA (SimplexDNA), de forma a medir os benefícios ecológicos e a ter uma abordagem de regeneração baseada em dados. “A tecnologia também rastreia mudanças no ecossistema, como retenção de água e biodiversidade, e estamos a testar modelos de IA para difundir informação, facilitar o uso das infraestruturas e, no futuro, apoiar funções ecológicas do local”, aponta. Há também colaborações “com startups do setor agro-inovador em projetos como agricultura vertical, hidroponia de baixo impacto e design agroflorestal assistido por computador”.
A ligação à tecnologia vai ainda mais longe. Ao berço do projeto. A TDF é uma Organização Autónoma Descentralizada (modelo de gestão digital, governado pelos membros através de blockchain), que está integrada na associação OASA. A entidade foi fundada em 2022, na Suíça, como associação sem fins lucrativos, com o objetivo de promover a gestão regenerativa da terra e criar sistemas vivos prósperos em áreas de conservação em todo o mundo, afirma Samuel Delesque. A escolha da Suíça para sede da OASA deveu-se ao reconhecimento legal do país da tecnologia blockchain e das Organizações Autónomas Descentralizadas (DAO), o que permite “estruturar um ativo digital que gere benefícios ecológicos, ao mesmo tempo que cria novas formas de governança da participação na terra num modelo cooperativo que coloca a natureza no centro”, esclarece.
A OASA conta com membros da Dinamarca, Suíça e Reino Unido, que se juntaram ao movimento porque “procuram uma nova forma de viver – ao serviço da vida, e com uma mentalidade regenerativa em vez de extrativa”, sublinha. No cerne, está a vontade de “criar um mecanismo para trancar terras sob um novo modelo de commons [licenças de utilização] regenerativo – protegendo-as para as gerações futuras, enquanto as disponibiliza a cidadãos contemporâneos que precisam de espaços inspiradores para viver, trabalhar e conectar-se”. Segundo Samuel Delesque, a TDF é “a primeira DAO organizada no contexto de uma eco-aldeia” e foi constituída no objetivo de não extrair valor nem lucro.
Este conceito inovador instalou-se em Portugal por duas ordens de razão: o país “combina beleza natural, riqueza cultural e oportunidade. Tem paisagens deslumbrantes, costa preservada e fortes estruturas comunitárias locais. Ao mesmo tempo, as zonas rurais necessitam de revitalização, e tem ativos subvalorizados que podem ser restaurados para trazer de volta vida e biodiversidade; o território é também um polo para nómadas digitais, a comunidade cripto e redes de eco-aldeias, o que o torna ideal para lançar um protótipo europeu que una regeneração e inovação”.
A OASA está ainda a apoiar outros projetos em Portugal, Egito e Suécia.