Investigações revelam impacto grave da poluição do ar na saúde cerebral e cardíaca. Estudo britânico demonstra alterações cerebrais em idosos expostos a poluentes, enquanto dados espanhóis associam níveis elevados de partículas a maior mortalidade por enfarte
A exposição continuada a poluentes atmosféricos representa uma ameaça crescente para a saúde cognitiva e cardíaca, de acordo com duas investigações europeias recentes. Os estudos, realizados no Reino Unido e em Espanha, estabelecem ligações diretas entre a qualidade do ar e o agravamento de condições neurológicas e cardiovasculares.
A investigação britânica, publicada na The Lancet Healthy Longevity, acompanhou cidadãos nascidos desde 1946, focando-se especialmente na faixa etária entre os 45 e 64 anos. Os participantes foram monitorizados quanto à sua exposição a diversos poluentes, incluindo dióxido de azoto, óxidos de azoto e partículas finas PM₁₀ e PM₂.₅.
Ao atingirem entre 69 e 71 anos, os participantes foram submetidos a avaliações cognitivas abrangentes e exames de ressonância magnética. Os resultados evidenciaram que maior exposição a dióxido de azoto e partículas durante a meia-idade correlaciona-se com processamento mental mais lento e deterioração cognitiva mais acentuada.
A análise das imagens cerebrais revelou que níveis elevados de óxidos de azoto estavam associados à diminuição do volume do hipocampo. Paralelamente, a exposição a dióxido de azoto e partículas relacionava-se com o aumento dos ventrículos cerebrais, sinais tradicionalmente indicativos de atrofia cerebral.
Em Espanha, um estudo conjunto da Sociedade Espanhola de Cardiologia e da Fundação Espanhola do Coração analisou dados de 122 hospitais nacionais, abrangendo 115.071 pacientes com mais de 18 anos diagnosticados com enfarte agudo do miocárdio entre 2016 e 2021.
A investigação demonstrou que concentrações de partículas PM 2,5 superiores a 10 microgramas por metro cúbico nos três dias anteriores à hospitalização correlacionam-se com um aumento significativo de internamentos por enfarte, resultando em até 22 casos adicionais por 1.000 hospitalizações.
Raquel Campuzano, investigadora principal do estudo espanhol, constatou que em dias com níveis de poluição extremos, ultrapassando 25 microgramas por metro cúbico, o risco de mortalidade aumenta 14%. Na prática, isto significa uma morte adicional por cada grupo de 125 pacientes internados, comparativamente a períodos com melhor qualidade do ar.
O cardiologista Jordi Bañeras, coautor do estudo, explicou que estas partículas podem desencadear processos inflamatórios no organismo, comprometer o funcionamento vascular e potenciar a formação de coágulos. Estes mecanismos estão diretamente implicados no desenvolvimento da aterosclerose e na instabilidade das placas arteriais, podendo culminar em eventos cardíacos graves.
NR/HN/Lusa
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