A lesão inesperada (num olho) de Pepê, ontem, deixava antever a possibilidade de Rodrigo Mora voltar a ser titular e, a partir daí, poder recuperar algum do estatuto que perdeu desde a entrada de Francesco Farioli, mas o italiano tinha outras ideias. Lançou William Gomes, deixando clara a mensagem de que o brasileiro está à frente do novo menino de ouro do Dragão, e este correspondeu, com um grande golo a pintar uma exibição de altíssima qualidade do FC Porto.

Poder-se-ia pensar que Farioli tem outras ideias para Mora, que o lugar de extremo direito não é o melhor para um 10 que gosta de pegar na bola entre linhas e jogar dentro do bloco adversário, mas foi precisamente para essa posição que entrou, já com a vitória no bolso e o Dragão deleitado com a goleada ao Casa Pia. E passou ao lado do jogo.

O tenebroso passado recente com Martín Anselmi já lá vai e há toda uma nova dinâmica e ideia de equipa a nascer e nem se pode dizer que Farioli tenha inventado a roda: construiu, com André Villas-Boas, um plantel à sua imagem e facilita o trabalho dos jogadores, na medida em que os coloca nas posições que lhes são mais confortáveis.

Parece fácil não inventar, é certo, mas até há bem pouco tempo vivia nos azuis e brancos um 3x4x3 sem pés nem cabeça, agora substituído pelo 4x3x3 de Farioli, intenso, enérgico e a fazer lembrar os melhores tempos de Sérgio Conceição com quatro, cinco e seis jogadores em zonas de finalização de forma recorrente. Não é acaso, é trabalho. Não tivesse a equipa tirado o pé do acelerador na segunda parte e o Casa Pia poderia ter feito a viagem para Lisboa com um resultado histórico na bagagem.

Trouxe Rodrigo Mora para a conversa porque me assusta a possibilidade de, até 10 de setembro, dia do fecho de mercado na Arábia Saudita, o Al Ittihad voltar a mudar de ideias e colocar o dinheiro que seja necessário para o FC Porto abrir mão do seu maior talento. Mora tem 18 anos feitos em maio e deveria olhar para alguns exemplos recentes de insucesso por saídas precoces do ninho. João Félix foi o maior de todos e não me parece lógico que, depois de meia época, Mora deite a toalha ao chão porque chegou um novo treinador e não está a ter o protagonismo de que gostaria. Os milhões da Arábia seduzem, sim, mas é grande o risco de se poder perder uma carreira que se augura muito risonha. Ter paciência é uma grande virtude e o tempo dele com Farioli chegará. Calma, Rodrigo.