As autoridades norte-americanas de imigração tencionam deportar Kilmar Abrego Garcia para o Uganda depois de o salvadorenho ter rejeitado uma proposta para ser enviado para a Costa Rica em troca de permanecer na prisão e de se declarar culpado por acusações de tráfico de pessoas.

Abrego Garcia, que se tornou num símbolo involuntário das políticas de imigração da Administração Trump, foi primeiro deportado devido a um “erro administrativo” para El Salvador, para a controversa prisão de alta segurança Cecot, e depois reenviado para os EUA, onde ficou detido no Tennessee, acusado de auxílio à imigração ilegal.

Depois de ter sido libertado na sexta-feira por ordem de uma juíza que considerou que não havia risco de fuga, nem Garcia representava um risco para a comunidade, os seus advogados foram notificados de que deveria apresentar-se esta segunda-feira às autoridades de imigração, o Immigration and Customs Enforcement (ICE), e que seria deportado para o Uganda, noticiou a Associated Press.

Assim, Abrego Garcia, de 30 anos, que passou os últimos cinco meses na prisão e que tinha regressado a casa, onde vive com a mulher, um filho e dois enteados, teve de apresentar-se hoje pelas oito da manhã nas instalações do ICE, em Baltimore (Maryland), onde voltou a ficar detido.

Os seus advogados estão a tentar negociar uma alternativa à sua transferência para o Uganda, país com que os Estados Unidos celebraram recentemente um acordo temporário para receber cidadãos de países terceiros aos quais seja rejeitada a permanência em território norte-americano.

O site noticioso brasileiro G1 escreve que a defesa de Kilmar Garcia pediu ao juiz federal Waverly Crenshaw, de Nashville, responsável pelo caso criminal do salvadorenho, que rejeite as acusações do ICE, sob o argumento de que o imigrante está a ser “perseguido e processado de forma selectiva” pela Administração Trump como forma de retaliação por ter contestado a sua deportação anterior, para El Salvador, onde disse ter sido torturado.

O advogado Simon Sandoval-Moshenberg falou com jornalistas e apoiantes de Abrego Garcia à porta da delegação local do ICE, no centro de Baltimore, e disse que o seu cliente irá continuar a dar-se como inocente, mas confirmou que foi iniciado um processo de conversações com a Administração Trump para evitar a deportação para o Uganda, o que poderá incluir a aceitação do estatuto de refugiado na Costa Rica.

“Estão a usar a Costa Rica como uma cenoura e o Uganda como um pau”, disse o advogado, acusando o Governo norte-americano de estar “a transformar o sistema de imigração numa arma, de uma forma completamente inconstitucional”.

Na sexta-feira, a secretária da Segurança Interna, Kristi Noem, confirmou a detenção de Kilmar Abrego Garcia na plataforma X, dizendo que um membro do gangue MS-13 e “traficante de seres humanos, abusador doméstico em série e predador de crianças” foi retirado da rua.

Também acusou a juíza que mandou libertá-lo de “ser uma activista liberal” que tentou “obstruir o trabalho da justiça”.

O salvadorenho fugiu para os EUA em 2011, aos 16 anos, sob ameaça de morte de um gangue violento, e, em 2019, recebeu protecção legal contra uma eventual deportação devido a receios fundados de que a sua vida correria risco caso fosse forçado a regressar a El Salvador.

A viver legalmente nos EUA e sem qualquer crime no cadastro, antes de ser detido Garcia estava empregado, é casado com uma cidadã norte-americana e pai de uma criança de cinco anos, também com cidadania norte-americana, portadora de deficiência mental.