Morreu esta semana, com apenas 22 anos, um jovem forcado colhido por um touro durante um espectáculo tauromáquico.
A tragédia foi amplamente noticiada, e, como é habitual nestes casos, muitas pessoas voltaram os olhos para quem se opõe à tauromaquia, como é o caso da ANIMAL, esperando um qualquer tipo de reacção de júbilo. Nada mais longe da realidade. Na verdade, quando alguém morre numa arena, ainda que seja alguém que escolheu estar ali, sentimos precisamente aquilo que qualquer pessoa sensata e empática sentiria: tristeza. Pena.
Sentimos a tristeza de saber que mais uma vida foi interrompida de forma absolutamente desnecessária. Lamentamos saber que há pais que perderam um filho. Que há amigos que perderam um companheiro. Que há uma comunidade inteira que chora. E tudo isto porquê? Porque continua a haver, em pleno século XXI, espectáculos que glorificam a violência, o sofrimento e o risco como se fossem património que não pode ser questionado. Porque continua a haver uma insistência em manter tradições absolutamente anacrónicas que colocam em risco vidas humanas e que infligem um sofrimento atroz a animais sencientes.
Este não é um caso isolado. A tauromaquia, quer em Portugal, quer nos outros países onde ainda é legal, soma já muitas vítimas humanas. Gente que ficou marcada para sempre, física e emocionalmente. Jovens que viram as suas vidas transformadas por lesões graves, com consequências permanentes. Famílias que vivem com uma dor que não desaparece. Não faz sentido!
A tauromaquia é, por definição, um exercício de violência. Mesmo quando os humanos envolvidos o fazem por opção, e mesmo quando o assumem como parte de uma tradição que dizem amar, o contexto continua a ser violento. Uns escolhem estar ali, outros não. Mas, ainda assim, nenhum ser deveria ser exposto à dor, à humilhação ou à morte por entretenimento.
Soube-se, entretanto, que esta não foi a única morte humana naquele recinto. Um espectador, ao ver “a colhida”, ter-se-á sentido mal, o que o levou a óbito. Nada disto é inevitável. Nada disto pode ser normalizado.
E, por mais que se repitam as justificações mastigadas da cultura e da tradição populares, nenhuma consegue apagar o essencial: é possível escolher não perpetuar a violência. É possível e é urgente.
A quem continua a alimentar este espectáculo, esta mortandade, a quem o pratica, a quem o promove, a quem o aplaude, fica apenas esta pergunta: esta vossa diversão vale mesmo a pena?
A resposta está em cada vida perdida, seja ela humana ou não humana.