Segundo especialista, crianças pequenas são mais suscetíveis porque o sistema imunológico ainda não está totalmente desenvolvido (Reprodução/GettyImages)
25 de agosto de 2025
Isabella Rabelo – Da Cenarium
MANAUS (AM) – Enquanto Brasil registra queda em casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por vírus sincicial respiratório (VSR) e Influenza A, o Amazonas apresenta alta constante em crianças de até dois anos. Os dados são do boletim InfoGripe, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no último dia 21 de agosto.
Arte: Paulo Dutra/Cenarium
O InfoGripe é uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) voltada ao monitoramento dos casos de SRAG no Brasil, oferecendo suporte às vigilâncias em saúde na identificação de locais prioritários para ações de preparação e resposta a eventos de saúde pública. Segundo o relatório, neste ano, já foram notificados 159.663 casos, sendo que em 53,4% foram detectados a presença de vírus respiratório.
Segundo o infectologista e pediatra Noaldo Lucena, esse aumento dos casos de SRAG em crianças no Amazonas pode estar ligado a fatores como o isolamento geográfico do Estado, os impactos das mudanças climáticas e a necessidade de ampliar a cobertura vacinal.
“Algumas explicações podem ser plausíveis. Estamos distantes dos grandes centros, e isso se observa inclusive em outras doenças infecciosas, que geralmente surgem primeiro nas áreas mais povoadas e depois se espalham para regiões mais isoladas. Além disso, as mudanças climáticas podem ter influência, e a vacinação precisa alcançar níveis acima de 90% para garantir proteção efetiva da população, algo em que o Amazonas ainda peca em quase todas as vacinas”, esclareceu.
Ainda de acordo com o médico, crianças pequenas são mais suscetíveis porque o sistema imunológico delas ainda não está totalmente desenvolvido, o que dificulta a resposta contra os vírus. “O grande risco é a evolução para a SRAG, que esses vírus têm grande potencial de desencadear, além do fato de que o sistema imunológico nessa faixa etária ainda não está formado o suficiente para o combate a esses agentes”, explicou Noaldo.
Cenário Geral
Apesar do alerta da Fiocruz para o aumento de notificações de SRAG em crianças de até dois anos no Amazonas, o cenário local mostra uma redução nos casos e óbitos por vírus respiratórios no Estado em 2025.
Dados do Informe Epidemiológico de Vírus Respiratórios, divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), apontam que, entre 1º de janeiro e 23 de agosto deste ano, foram registrados 1.120 casos associados a vírus respiratórios, representando uma redução de 26,9% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram registrados 1.533 casos.
No mesmo intervalo, o número de mortes também apresentou recuo. Foram 48 óbitos confirmados, contra 73 no ano anterior, o que representa redução de 34,2%. Entre os óbitos de 2025, os principais agentes identificados foram Influenza A (21 casos), Covid-19 (20), Rinovírus (4), Influenza B (2) e Parainfluenza (1).
Nas amostras analisadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), nas últimas três semanas, o Coronavírus SARS-CoV-2 ainda aparece como o vírus mais identificado (44%), seguido pelo Vírus Sincicial Respiratório (34,6%), Rinovírus (27,6%), Adenovírus (7,8%), Metapneumovírus (0,8%) e Influenza A (0,1%).
Apesar da redução global, os especialistas chamam atenção para a distribuição etária das últimas três semanas analisadas (03/08 a 23/08), em que crianças menores de 1 ano concentraram 57%, seguida por crianças de 1 a 4 anos (16%) e de 60 anos ou mais (11%). As demais faixas etárias somaram: 20 a 39 anos (9%), 5 a 9 anos (3%), 10 a 19 anos (3%) e 40 a 59 anos (1%)
O dado reforça o que já havia sido apontado no boletim InfoGripe: a população infantil continua sendo a mais vulnerável no Amazonas, em contraste com a tendência nacional de queda.
A Fiocruz destaca a necessidade de manter a vacinação contra a Covid-19 atualizada, sobretudo entre idosos e pessoas com imunidade reduzida, que precisam receber doses de reforço a cada seis meses. A instituição também recomenda que crianças e adolescentes com sinais de gripe ou resfriado permaneçam em casa e evitem frequentar a escola para não espalhar o vírus. Caso não haja essa possibilidade, a orientação é que utilizem máscara.
Confira o boletim InfoGripe na íntegra:
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