Circulam links no X que promovem a venda de imagens de pornografia e abuso sexual infantil. As contas que, à superfície, parecem inofensivas, usam hashtags e emojis reconhecidos no meio da pedofilia para publicitar o negócio criminoso, avança a BBC. “Zora” (nome fictício), uma vítima de abuso sexual na infância, depois de saber que as suas imagens continuam a circular nas redes sociais, deixou um pedido a Elon Musk.
“O nosso abuso está a ser partilhado, negociado e vendido na tua aplicação. Se agirias sem hesitar para proteger os teus filhos, imploro-te que faças o mesmo por nós. A altura de agir é agora”, disse Zora à emissora britânica, depois de saber que há fotografias suas a ser vendidas depois de serem publicitadas através do X (antigo Twitter). “O meu corpo não é mercadoria. Nunca foi, nunca será. E aqueles que distribuem este tipo de material não são meros espectadores, são perpetradores cúmplices”, continuou.
A vítima, que sofreu abusos sexuais pela primeira vez há mais de 20 anos, teve conhecimento da situação porque a BBC encontrou as suas imagens enquanto investigava o mercado global do conteúdo de abuso infantil.
O órgão de comunicação inglês entrou em contacto com o grupo Anonymous depois de saber que há membros que investigam o mercado da pedofilia. Com o auxílio dos piratas informáticos, os jornalistas chegaram a uma conta no X que, aparentemente, não apresenta obscenidades. No entanto, os emojis na descrição do perfil indiciavam o negócio em que o dono da conta estaria envolvido. Se dúvidas houvesse, o link que remetia para o Telegram dissipava-as.
Os jornalistas entraram em contacto com o vendedor, que perceberam estar radicado na Indonésia e que rapidamente lhes disse que tinha “bebés. Crianças novas, 7-12”. Não demorou a enviar links que remetiam para o conteúdo explícito. A BBC limitou-se a reencaminhar, sem abrir, para o Canadian Centre for Child Protection, que tem permissão legal para ver este tipo de conteúdo. Este vendedor tinha imagens de “Zora”.
A emissora explica que este caso é só a ponta do icebergue. As publicações no X usam hashtags aparentemente inofensivas, mas quem procura aquele tipo de conteúdo decifra-as, são familiares. Muitas das contas usam, como foto de perfil, imagens recortadas de casos famosos de abuso sexual infantil. Um ombro, uma mão, nenhum indício de obscenidade. Mas os pedófilos sabem o que aquilo significa.
O membro do Anonymous, em declarações à BBC, explicou que se tem debruçado sobre o caso e, em particular, sobre este vendedor. No entanto, cada vez que uma conta é removida, aparece uma nova em substituição.
Quando Elon Musk adquiriu o Twitter, agora X, em 2022, assumiu que uma das suas prioridades mais urgentes era remover todo o conteúdo sexual de menores. Mais de três anos depois, o problema continua por resolver. Só em 2024, o US National Center for Missing and Exploited Children recebeu mais de 20 milhões de queixas de empresas tecnológicas sobre a existência de imagens ilegais de abuso sexual de menores.