Maria Luís Albuquerque esteve, na qualidade comissária europeia, mais de uma hora e meia a falar de Europa, competitividade e serviços financeiros aos alunos da Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide. Mas o passado aparece sempre. Já quase no final da intervenção um aluno perguntou à antiga ministra das Finanças qual a medida que tomaria “diferente” (de Joaquim Miranda Sarmento) se voltasse a ser governante: “Gostava de reverter a medida que tivemos de aplicar [durante a troika] em que aumentámos a taxa liberatória [imposto sobre rendimentos de capitais] de 21 para 28%”.
A comissária europeia fez questão de dizer que este é um mero exercício, já que não pretende voltar a ser ministra das Finanças. Lembrou que já deixou de ser governante há 10 anos e que, desde então, “as circunstâncias do país mudaram muito.” Na altura, diz, essa foi uma medida que “não gostou nada” de tomar, mas que agora optaria por baixar esse imposto já que o país “precisa de estimular a poupança e a aplicação dessa poupança na economia.”
Os tempos da troika foram tão marcantes que esse passado está constantemente a regressar. A secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Inês Domingos — que partilhava o painel com a comissária — lembrou que Portugal tem “as finanças em ordem, muito graças ao trabalho de Maria Luís Albuquerque como ministra”. Isto quando lembrava que Portugal é hoje dos países com as Finanças mais equilibradas da Europa.
Já há um ano, quando regressou depois de vários anos à Universidade de Verão, não deixou de se confrontar com várias referências ao passado. Na altura ouviu frases como como “o País só se libertou da troika devido a três pessoas: Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque”. Ou até: “Não foi a ministra da troika, foi a ministra que tirou o país da troika”. Na mesma ocasião, a própria Maria Luís ajustou contas com António Costa que acusou de não ter defendido o interesse nacional ao não apoiar a sua candidatura para a presidência, precisamente, do supervisor europeu dos mercados de capitais (a ESMA).
Voltando à sessão desta terça-feira, Maria Luís Albuquerque falou também de outros temas, como a nova política de tarifas impostas pelos Estados Unidos. A comissária europeia diz que a mudança vinda de Washington trouxe “uma vantagem: a consciência que a Europa tomou de que tem de fazer mais para depender de si própria, por exemplo na Defesa. Os desafios não são novos, mas deixámos de poder fingir que não existem.” Mas, ainda assim, conclui: “A parte da guerra comercial não ajuda ninguém, nem do lado de cá, nem de lá”.
Puxando da sua pasta dos Serviços Financeiros e União da Poupança e dos Investimentos, Maria Luís Albuquerque, disse ainda que a União Europeia tem uma “regulação pesada e complexa que afeta todas as áreas de funcionamento da Europa”. A esse propósito defendeu que a Europa deve ter “menos fragmentação”, já que o espaço europeu tem recursos humanos e financeiros, mas “dividido em 27 compartimentos.” A “fragmentação”, diz “é um dos grandes problemas da competitividade da Europa”.
Aos alunos, a comissária explicou que o seu grande objetivo é criar um verdadeiro “Mercado Único Financeiro Europeu”. Deixou ainda recados ao BCE, ao exigir uma “supervisão financeira que seja de facto única”. Já que, denuncia, as regras são as mesmas, mas as interpretações dos Estados-membros são diferentes.
A antiga ministra das Finanças disse ainda que “a forma de combater os nacionalismos, é combater as causas.” E acrescenta: “Se não conseguirmos crescimento económico, vamos ter mais esses problemas”. Depois de a secretária de Estado dos Assuntos Europeus lembrar que o lema da Europa é “Unidos na diversidade”, Maria Luís Albuquerque aproximou-se do microfone para dizer que é preciso agora investir “mais na união e menos na diversidade”.
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