O Exército de Israel disse nesta terça-feira que após uma avaliação preliminar ao ataque ocorrido na véspera contra o Hospital Nasser, no Sul da Faixa de Gaza, eram precisas mais investigações, enquanto as críticas internacionais se somavam.

O ataque foi particular não só por ter matado cinco jornalistas e vários socorristas, causando mais de 20 vítimas no total, mas por ter sido levado a cabo a partir de um primeiro disparo e, pouco depois, de um segundo.

Uma série de países e organizações reagiram, classificando o ataque como “totalmente inaceitável” (Comissão Europeia) ou “completamente indefensável” (Keir Starmer, primeiro-ministro britânico).

O primeiro-ministro de Israel afirmou, num comunicado do seu gabinete para a imprensa internacional, que lamentava profundamente o incidente trágico e prometeu uma investigação. O Haaretz sublinhava que não foi emitido qualquer comunicado em hebraico para a imprensa israelita sobre o mesmo assunto.

O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, destacou-se ao afirmar que achava que Israel não tinha tido como objectivo atingir e matar os jornalistas e que revelaria a sua opinião final depois de saber o resultado de uma investigação prometida por Israel.

O Exército declarou nesta terça-feira que, após uma avaliação preliminar, eram precisas mais investigações para “examinar várias lacunas”, incluindo omissões relativas à autorização para o disparo (sendo um hospital, deveria ser de uma patente superior), à munição usada e ao processo de decisão.

Os militares afirmam que o ataque teve como motivo a indicação de que o Hamas teria instalado uma câmara no local para monitorizar os movimentos das forças israelitas.

Da ONU, o porta-voz do alto-comissariado dos Direitos Humanos disse que o número de jornalistas mortos em Gaza – 189, segundo o Committee to Protect Journalists – levantava muitas questões. “Tem de haver justiça”, declarou o porta-voz, acrescentando que, “no passado, as autoridades israelitas anunciaram investigações a mortes destas” mas que não “levaram a resultados ou responsabilização”.

O porta-voz para os Assuntos Externos da Comissão Europeia, Anouar El Anouni, disse que civis e jornalistas “têm de ser protegidos pelo direito internacional”, cita a BBC. “Os civis em Gaza têm sofrido muito e há muito tempo, e chegou a altura de quebrar o ciclo de violência.”

Jornalistas e trabalhadores humanitários prestaram, entretanto, homenagens aos colegas mortos. As palavras de Mariam Abu Dagga, de 33 anos, no testamento que deixou foram muito repetidas. Pedia aos outros jornalistas que não chorassem no seu funeral, ao filho de 13 anos, Ghaith, pedia para que trabalhasse, que fosse excelente, que a fizesse ter orgulho e, um dia, que chamasse à sua filha Mariam.

As autoridades de Gaza contabilizavam na manhã desta terça-feira 75 mortes em ataques do Exército de Israel, incluindo 17 junto a locais de distribuição de ajuda.

Protestos para cessar-fogo

Enquanto isso, voltaram a repetir-se os protestos para que o Governo aceite um acordo com o Hamas para um cessar-fogo em Gaza e para a libertação dos reféns, quando uma reunião do gabinete de Segurança terminou sem ser discutido, segundo os media israelitas, o recomeço de negociações para um cessar-fogo em Gaza.

Netanyahu está entre a pressão da opinião pública (a maioria quer um acordo) e a opinião dos militares, por um lado, e as exigências dos ministros extremistas da sua coligação, que ameaçam demitir-se e fazer cair o Governo, se a guerra não continuar, por outro.

Na Praça dos Reféns, em Telavive, uma série de sobreviventes do Holocausto juntaram-se ao protesto. Uma delas foi Colette Avital, antiga embaixadora de Israel em Lisboa (1988-1996) e que foi também deputada do Partido Trabalhista e candidata à presidência.

“Sabemos o que é um Holocausto, o que é a fome, o que é o medo”, disse Avital, citada pelo Times of Israel. Na praça, uma mesa coberta com um pano negro, pratos vazios, restos de pão pita, latas e areia, mostrando as difíceis condições que atravessam os reféns.

“Viemos para este país com valores de solidariedade. Aprendemos que não deixamos ninguém para trás.” Mas “não estamos a ver o Governo fazer o que é preciso para trazer de volta [os reféns]”.