“Balada de amor ao vento”  foi publicado por Paulina Chiziane, em 1990, 15 anos após a independência de Moçambique de Portugal, em 1975, e foi lançado em um contexto de declínio da luta armada pós-independência. O período antecedeu os Acordos de Paz de 1992, que formalizaram o fim da guerra civil entre a Frelimo e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana).

“Ao publicar esse texto, Paulina relembra as promessas da Frelimo durante a luta anticolonial e coloca em foco as reivindicações das mulheres moçambicanas, para as quais as esperanças, sonhos e planos de uma nação só se materializarão quando houver condições sociais que realmente favoreçam a igualdade de direitos e condições entre homens e mulheres como cerne de uma política nacional”, explicou Stela.

Assim, a obra não é apenas um romance, mas um profundo reflexo das tensões sociais e culturais da época. Com sua narrativa especialmente feminina, a obra prioriza o olhar, as experiências, os desejos e as frustrações das mulheres moçambicanas, questionando a condição de inferioridade e a submissão a que muitas vezes são submetidas.

A prosa de Paulina Chiziane consegue abarcar diversos temas relevantes para refletir sobre a sociedade moçambicana de forma integrada ao enredo, sem recorrer a interpretações folclóricas dos costumes. Todas as reflexões promovidas sobre as mulheres, os conflitos culturais e a relação entre natureza e ancestralidade são partes essenciais das vivências e trajetórias das personagens.

“Essa é uma característica fundamental da prosa de Paulina: ela sempre busca familiarizar o leitor com sua atmosfera de inspiração literária. Ao mesmo tempo, a temática das relações amorosas, do abandono, da decepção e da maternidade, que são latentes em “Balada de amor ao vento”, toca em aspectos universais, compartilhados por diversas outras narrativas que dialogam com o romance de Paulina, aquelas que colocam mulheres como protagonistas de suas próprias histórias e refletem sobre o ofício de escritora na contemporaneidade”, explica a pesquisadora.

As desigualdades de gênero são constantemente expostas na obra, como no trecho em que a tia da protagonista a alerta sobre seu futuro como mulher: