A sabotagem dos gasodutos russos Nord Stream em 2022 resultou na maior libertação de metano provocada pelo homem no planeta, indicou esta terça-feira, 26 de Agosto, a ONU, referindo-se às conclusões de um estudo no qual participaram dezenas de cientistas.

A informação foi transmitida ao Conselho de Segurança das Nações Unidas pelo secretário-geral adjunto para a Europa, Ásia Central e Américas, Miroslav Jenca, numa reunião convocada pela Rússia para discutir a investigação às explosões que ocorreram em Setembro de 2022 e que danificaram os gasodutos no mar Báltico.

De acordo com Jenca, cerca de 70 cientistas de 30 organizações de investigação participaram no estudo que concluiu que a variação plausível da fuga registada no Nord Stream foi de 445 mil a 485 mil toneladas de metano — quantidade que representa mais do dobro do que se pensava anteriormente.

De acordo com os especialistas, a curto prazo, essa fuga de metano, muito prejudicial para o ambiente, contribuiu para o aquecimento global na medida equivalente à utilização de oito milhões de automóveis num ano.

“Embora o incidente represente apenas uma pequena parte das emissões globais de metano, é um importante lembrete do impacto ambiental no aquecimento global causado pela destruição de infra-estruturas críticas”, frisou Miroslav Jenca, destacando que o estudo foi coordenado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

O secretário-geral adjunto reforçou ainda que a ONU não possui detalhes adicionais sobre o incidente e não está em condições de verificar ou confirmar as alegações ou outros relatórios sobre o caso.

Na semana passada, o procurador-geral da Alemanha anunciou a detenção em Itália de um ucraniano suspeito de coordenar os ataques contra o Nord Stream. O homem detido rejeitou a extradição voluntária para a Alemanha, que será agora decidida em tribunal a partir de 3 de Setembro. É acusado, ao abrigo do artigo 88.º do Código Penal alemão, de provocar uma explosão, destruição de infra-estruturas e sabotagem.

Na reunião desta terça-feira do Conselho de Segurança, a Rússia expressou relutância face ao papel que esse cidadão ucraniano terá desempenhado no incidente, avaliando que a dimensão da sabotagem “é algo que apenas um pequeno grupo de países pode fazer, países que possuem as capacidades militares e técnicas necessárias”. Em 2024, o próprio chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, admitiu estar convicto de que foram os Estados Unidos a ordenar a sabotagem.

“Apesar de esta versão ser completamente incongruente, tem uma grande vantagem para o Ocidente (…): desvia a atenção e coloca os holofotes directamente em bodes expiatórios que talvez tenham estado envolvidos, mas não agiram sozinhos”, advogou o embaixador interino da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy.

Por outro lado, vários membros do Conselho de Segurança pediram que a integridade das investigações em causa seja respeitada, com o Reino Unido a apontar contradições na abordagem de Moscovo. “Embora a Rússia exija responsabilização por alguns ataques à infra-estrutura, continua a intensificar os seus ataques deliberados à infra-estrutura crítica e energética na Ucrânia”, observou a diplomata britânica Jennifer MacNaughtan.

Já França acusou Moscovo de convocar a reunião desta terça-feira com o intuito de “desviar a atenção e os recursos do Conselho de Segurança, assim como da comunidade internacional”, enquanto continua a agressão à Ucrânia.

O Nord Stream é um conjunto de gasodutos de gás natural, composto pelo Nord Stream I e pelo Nord Stream II, que vão da Rússia à Alemanha através do mar Báltico.

Em Setembro de 2022, quatro fugas foram detectadas nos gasodutos, perto da ilha de Bornholm, na Dinamarca. As fugas ocorreram em águas internacionais dentro das zonas económicas da Dinamarca e da Suécia.

Após o incidente, autoridades dinamarquesas, alemãs e suecas iniciaram investigações separadas sobre as explosões, com a Rússia a argumentar que se tratou de um ato deliberado de terrorismo. Em Fevereiro de 2023, Dinamarca, Alemanha e Suécia indicaram que o incidente teve origem num ato de sabotagem. Um ano depois, as autoridades dinamarquesas e suecas encerraram as respectivas investigações, alegando falta de fundamento para a instauração de um processo criminal. A Alemanha é o único país que mantém em curso uma investigação.