Por trás de uma curiosa ação feita diante da prefeitura de Blumenau, um motivo bastante nobre: mosquitos modificados em laboratório foram soltos para combater a dengue. Chamado de Wolbachia, o método começou oficialmente na cidade nesta quarta-feira (27) com a soltura no Centro. No total, serão 26 semanas liberando os insetos em 11 bairros blumenauenses.

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Na prática, os mosquitos Aedes aegypti recebem na biofábrica de Joinville a bactéria Wolbachia, que impede que os vírus da dengue, Zika e chikungunya se desenvolvam dentro deles. Ao serem soltos na natureza, acabam cruzando com os que não passaram pelo laboratório e, nesse contato, repassam a bactéria para os filhotes. Com o tempo, o número de mosquitos com Wolbachia aumenta e, por consequência, os com os vírus diminuem.

A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Saúde, por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com os governos estaduais e municipais, como parte da estratégia nacional de enfrentamento das arboviroses e é considerada uma tecnologia natural, autossustentável e segura.

Apesar de ter sido adotada por Blumenau nesta semana, a estratégia não é novidade em Santa Catarina. Joinville, que é sede da biofábrica, já tem se tornado referência no assunto desde o ano passado, quando houve a implementação. Os resultados do método ainda são estudados, mas já é possível perceber mudanças drásticas no cenário da doença na região. Nos primeiros seis meses de 2024, o município registrou mais de 20 mil casos e 64 mortes. Neste ano, no mesmo período, foram cerca de 800 casos e nenhuma morte.

Na primeira etapa, então, apenas a cidade do Norte catarinense foi contemplada. Agora, Blumenau e Balneário Camboriú passam a fazer parte da inovação. Até 2026, o maior município do Vale do Itajaí terá três dias de soltura por semana. São 114 caixas com 25 potes cada. Em cada frasco há cerca de 300 mosquitos.

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Mosquitos foram soltos em ato simbólico em frente à prefeitura de Blumenau nesta quarta-feira (27) (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Mosquitos foram soltos em ato simbólico em frente à prefeitura de Blumenau nesta quarta-feira (27) (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Mosquitos foram soltos em ato simbólico em frente à prefeitura de Blumenau nesta quarta-feira (27) (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Mosquitos foram soltos em ato simbólico em frente à prefeitura de Blumenau nesta quarta-feira (27) (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

Mosquitos foram soltos em ato simbólico em frente à prefeitura de Blumenau nesta quarta-feira (27) (Foto: Patrick Rodrigues, NSC Total)

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Os Wolbitos

A tentativa de controle das doenças ligadas ao Aedes aegypti é operacionalizada pela Wolbito do Brasil, empresa responsável pela maior biofábrica de Wolbitos (como são chamados os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia) do mundo.

A Wolbachia, inclusive, está naturalmente presente em mais da metade dos insetos da natureza e impede o desenvolvimento dos vírus das arboviroses no organismo dos insetos.

A tecnologia é respaldada por estudos científicos nacionais e internacionais, e já foi implementada com sucesso em diversas cidades do Brasil e do mundo, sempre com reduções expressivas de infectados pelas doenças do mosquito. Em Niterói, no Rio de Janeiro, dados preliminares apontam redução de 88,8% nos casos de dengue.

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O método é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e passou a fazer parte das políticas públicas de saúde do Brasil. Ação complementar a outras de enfrentamento à dengue, isso significa que a população precisa continuar mantendo os cuidados tradicionais contra o Aedes aegypti.

Três cidades de SC adotaram o método

Nesta semana, enquanto Blumenau e Balneário Camboriú começaram com a soltura, Joinville aumentou o número de bairros contemplados. Na nova etapa, aproximadamente 400 mil pessoas serão beneficiadas no Estado e o investimento, somente do Ministério da Saúde, chegará a R$ 5,5 milhões. Ao término da fase, 75% do território joinvilense será beneficiado com o método Wolbachia.

O gerente de Implementação da Wolbito do Brasil, Gabriel Sylvestre, define Joinville como o topo da inovação do Método Wolbachia. Durante o primeiro ano de implementação, a cidade se tornou relevante o suficiente para produzir e exportar o método para outros municípios catarinenses.

A biofábrica estabelecida no bairro Nova Brasília será o centro de toda a produção catarinense de Wolbitos. O local foi montado durante a primeira fase do projeto, sob o comando do World Mosquito Program (WMP). Agora com a coordenação da Wolbito do Brasil, a metodologia foi modificada, simplificada e se tornou mais eficiente, segundo Sylvestre.

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Segundo a Fiocruz, foi feita uma pesquisa de base, que ouviu a população em diferentes regiões das cidades, gerando um levantamento. A maioria das pessoas aprovou a implantação da tecnologia e, no caso de Joinville, a ampliação. Os resultados apontaram confiança na ciência e disposição em colaborar com a iniciativa.

Na parceria firmada, as prefeituras fornecem agentes locais e a Wolbito do Brasil atua com o desenvolvimento das atividades relacionadas à metodologia, incluindo a produção, em larga escala, dos ovos dos mosquitos.

Tanto a prefeita de Balneário Camboriú, Juliana Pavan (PSD), quanto o de Blumenau, Egidio Ferrari (PL), mostraram-se otimistas com a novidade.

— Sabemos que essa abordagem tem o potencial de transformar a maneira como enfrentamos a dengue, oferecendo uma solução sustentável e de longo prazo para proteger a saúde da nossa população — avaliou Ferrari.

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Os 11 bairros de Blumenau que terão Wolbitos são: Velha Central, Itoupavazinha, Velha, Água Verde, Itoupava Norte, Garcia, Fortaleza, Progresso, Vila Nova, Tribess e Itoupava Seca. A escolha foi feita pelo Ministério da Saúde após análise dos dados epidemiológicos dos últimos anos.

Em Balneário Camboriú, os bairros atendidos pelo projeto são Nações, Ariribá, Municípios e Centro (vias ímpares até a rua 2500), com solturas sempre às terças e quintas-feiras.

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