Euromaster

Com a desvalorização acelerada do bolívar e a repressão governamental aos dólares do mercado negro, cada vez mais venezuelanos estão a recorrer às criptomoedas como alternativa segura para proteger as suas economias.

Diversas lojas, desde pequenos comércios familiares até redes nacionais, passaram a aceitar pagamentos através de carteiras digitais como Binance e Airtm, e algumas empresas até pagam os salários dos funcionários com criptomoedas, revela o ‘Financial Times’.

Segundo dados da Chainalysis, o uso de criptomoedas na Venezuela aumentou 110% nos 12 meses até junho de 2025, colocando o país em 13º lugar no ranking global de adoção dessas moedas digitais. O crescimento intensificou-se após outubro, quando o governo deixou de defender o bolívar, que perdeu mais de 70% do seu valor até junho. A inflação anual atingiu 229% em maio, de acordo com o Observatório Financeiro Venezuelano (OVF).

“A necessidade levou os venezuelanos a procurar criptomoedas”, explica Aarón Olmos, economista do Instituto de Estudos Superiores em Administração de Caracas. “Eles enfrentam inflação, baixos salários, escassez de moeda estrangeira e dificuldade em abrir contas bancárias”, revela à mesma fonte.

Apesar da instabilidade, muitos venezuelanos veem nas criptomoedas uma proteção contra a desvalorização do bolívar. Gabriel Santana, dono de uma loja de ferragens em Caracas, paga a fornecedores e funcionários com USDT, reconhecendo perdas temporárias na conversão, mas compensadas pela inflação.

O governo mantém uma relação ambivalente com as moedas digitais. Em 2018, a Venezuela lançou sua própria criptomoeda, o petro, mas a iniciativa não ganhou força e foi abandonada. Até mesmo altos funcionários recorreram a criptomoedas, sendo alguns indiciados nos EUA por lavagem de dinheiro ou fuga de sanções.

Para comerciantes locais, aceitar criptomoedas tornou-se essencial para competir. “Se não aceitarmos USDT, perderemos negócios”, diz Masiel Bronco, dono de uma loja de tecnologia em Caracas.