O Governo da República Popular da China rejeitou esta quarta-feira a possibilidade de se juntar aos Estados Unidos e à Federação Russa nas negociações sobre desarmamento nuclear, depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter revelado que tinha discutido o assunto com o seu homólogo russo, Vladimir Putin.
“As capacidades nucleares da China não estão ao mesmo nível dos Estados Unidos. As políticas nucleares e o clima de segurança estratégico destes dois países também são fundamentalmente diferentes”, explicou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Guo Jiakun, citado pelo jornal chinês Global Times.
“Pedir à China que participe em negociações trilaterais com os Estados Unidos e a Rússia não é razoável, nem realista”, acrescentou o porta-voz chinês.
Guo Jiakun referiu ainda que Pequim adopta, “em primeiro lugar, uma política de não utilização de armas nucleares”, e acrescentou que o país também procura “uma estratégia de autodefesa nuclear”.
O porta-voz também afirmou que a China “manteve sempre as suas forças nucleares no nível mínimo necessário para garantir a segurança nacional”.
“A China não participa numa corrida ao armamento com nenhum país, e o poder nuclear e a política da China contribuem significativamente para a paz mundial”, enfatizou, antes de sublinhar que os países com os maiores arsenais nucleares — EUA e Rússia — devem assumir a sua “responsabilidade” e reduzi-los “significativamente”, com o objectivo de um “desarmamento total e abrangente”.
De acordo com o relatório anual do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) sobre o estado do armamento e da segurança internacional, publicado em Junho, a Rússia possui 5459 ogivas nucleares e os EUA têm 5177, o que corresponde, em conjunto, a quase 90% do total de armas nucleares em todo o mundo.
Seguem-se a China (600), a França (290), o Reino Unido (225), a Índia (172), o Paquistão (170), Israel (90) e a Coreia do Norte (50).
O SIPRI sublinha, no entanto, que a China é o Estado que está a expandir de forma mais rápida o seu arsenal, pelo segundo ano consecutivo. Depois de ter aumentado o número de ogivas, de 410 para 500, entre Janeiro de 2023 e Janeiro do ano seguinte, a China voltou a adicionar perto de 100 ogivas ao seu arsenal no espaço de um ano.
As declarações de Guo foram feitas após Trump ter sublinhado que a recente reunião com Vladimir Putin, que aconteceu no passado dia 15, no estado norte-americano do Alasca, foi “um dia muito bem-sucedido noutras questões”, para além da guerra na Ucrânia, “uma vez que foram discutidas muitas coisas diferentes, incluindo mísseis e nuclear”.
“Falámos sobre a limitação das armas nucleares. Vamos envolver a China nisso”, disse o Presidente dos EUA. Moscovo não comentou estas declarações.