O Presidente argentino teve de ser retirado de um comício do seu partido, o La Libertad Avanza (LLA), na província de Buenos Aires, nesta quarta-feira, 27 de Agosto, após manifestantes da oposição atirarem pedras e outros objectos contra a carrinha de caixa aberta em que se deslocava entre a multidão.
Devido aos incidentes, que se seguiram a confrontos entre manifestantes e polícia, Javier Milei foi de imediato retirado pela sua equipa de segurança, juntamente com a irmã e secretária-geral da Presidência argentina, Karina Milei. José Luis Espert, cabeça de lista do LLA em Buenos Aires, abandonou o local de mota. Nenhum dos três ficou ferido.
“Fora, Milei!”, ouviu-se durante a passagem da caravana do LLA nas ruas de Lomas de Zamora (Buenos Aires), histórico bastião peronista. O Presidente ultraliberal deparou-se com uma multidão de manifestantes da oposição que lhe atiraram pedras, garrafas, galhos e ovos, entre outros objectos. A polícia protegeu o Presidente com escudos antes de o retirar num veículo blindado.
Manuel Adorni, porta-voz de Milei, responsabilizou apoiantes da antiga Presidente da Argentina Cristina Kirchner pelos protestos. “Militantes da velha política, kirchnerismo em estado puro e um exemplo de violência que só os homens das cavernas querem: atacaram com pedras a caravana onde estava o Presidente”, escreveu na rede social X.
Também nesta quarta-feira, o chefe de gabinete do Governo argentino, Guillermo Francos, afirmou que a denúncia sobre um alegado esquema de corrupção envolvendo a agência responsável pelos apoios às pessoas com deficiência (Andis) é uma “operação política” orquestrada por sectores “populistas”, a duas semanas das eleições legislativas em Buenos Aires e a dois meses das eleições nacionais (que pela primeira vez em 20 anos acontecem em datas diferentes).
“Foi orquestrada uma operação política para divulgar supostas gravações de áudio do ex-director da Andis”, afirmou o chefe de gabinete do Governo perante o plenário da Câmara dos Deputados, para apresentar o relatório semestral de gestão do executivo de Javier Milei. Francos atribuiu as denúncias a um “modus operandi populista, que aparece com mais força quando as eleições se aproximam”.
O escândalo rebentou em 20 de Agosto, quando os jornais argentinos divulgaram áudios atribuídos ao agora ex-director da Andis, Diego Spagnuolo, um dos advogados de Javier Milei.
As gravações descrevem um alegado esquema de subornos na compra estatal de medicamentos, que implica Eduardo “Lule” Menem, subsecretário na Secretaria-Geral da Presidência. “Lule” é primo de Martín Menem, presidente da Câmara dos Deputados da Argentina, e do antigo Presidente Carlos Menem, um ultraliberal leal a Juan Perón e admirado por Milei, que já o considerou “o melhor Presidente da história argentina”.
Nas gravações também é feita referência a Karina Milei como possível destinatária de parte dos subornos que envolvem a empresa de comercialização de medicamentos Suizo Argentina.
“Responderemos a todas estas manobras com transparência e respeitando a divisão de poderes”, assegurou Guillermo Francos. Sublinhou ainda que o executivo destituiu Spagnuolo do cargo e interveio na Andis “para garantir o seu correcto funcionamento e realizar uma auditoria profunda e os inquéritos administrativos correspondentes, com ênfase no sistema de compras e contratações”.
O responsável político observou que as gravações foram divulgadas no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados rejeitou o veto de Milei a uma lei que obrigaria o Estado a aumentar os fundos para a assistência a pessoas com deficiência.
Apesar de a administração pública ter um excedente fiscal, Francos insistiu que essa lei “implica um desdobramento de recursos económicos que o Estado não possui”. “Tanto a aprovação de leis que exigem recursos que quebram o equilíbrio fiscal, como a difamação de funcionários com acusações infundadas fazem parte de um mesmo padrão: a acção de um pequeno grupo de pessoas que nesta nova Argentina já não têm lugar.” Com Lusa