Durante uma conferência na segunda-feira, o primeiro-ministro francês surpreendeu todos ao anunciar que vai submeter-se a um voto de confiança no Parlamento.
Em causa está o seu plano que prevê um corte de 44 mil milhões de euros no orçamento do próximo ano, que foi rejeitado por parte da oposição e pela maioria da população. O chefe do Governo considera que é preciso um esclarecimento sobre a situação orçamental e entende que deve ser o Parlamento pronunciar-se sobre os cortes propostos e não a “desordem das ruas”.
Consciente de que não dispõe de uma maioria clara, o chefe do Governo francês justificou esta moção de confiança, que abre a porta à queda do executivo e a uma futura instabilidade política, com o argumento de que seria mais arriscado não fazer nada.
“Se tivermos uma maioria, o Governo é confirmado. Se não tivermos, o Governo cai”, resumiu.
Numa altura em que a oposição já pensa na era pós-Bayrou, o primeiro-ministro francês embarcou numa campanha relâmpago para tentar salvar o seu Governo e tentar convencer os socialistas a dar-lhe um voto de confiança. François Bayrou afirmou que os deputados têm “treze dias” para “dizer se estão do lado do caos ou da responsabilidade”.
No entanto, as reações da oposição não dão esperanças de sucesso para o Governo. O partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical) e o Partido Comunista Francês (PCF) anunciaram, em separado, que iriam votar para “derrubar o Governo”.
Por seu lado, o partido de extrema-direita União Nacional declarou que não iria votar a favor da confiança, com o seu presidente, Jordan Bardella, a prever “o fim do Governo”.
Se o primeiro-ministro não passar o voto de confiança no Parlamento – um cenário possível, uma vez que os centristas e conservadores que o apoiam não têm maioria absoluta – terá de se demitir e abrir-se-á uma nova crise governamental.
Segunda crise política no mesmo ano
França está, assim, a mergulhar novamente na incerteza política, apenas oito meses após a tomada de posse do seu Governo, que corre o risco de cair pela mesma razão que a do seu antecessor, Michel Barnier: a incapacidade de aprovar um orçamento para o país.
Esta instabilidade política, sem precedentes durante a Quinta República Francesa, foi desencadeada pela dissolução da Assembleia Nacional por Emmanuel Macron, em junho de 2024, após a sua derrota história para a extrema-direita nas eleições europeias.
Macron procurava um “esclarecimento”, mas as eleições legislativas que se seguiram resultaram numa França ainda mais dividida. A Assembleia Nacional ficou fragmentada em três blocos (uma aliança entre a esquerda, os macronistas, e a direita e a extrema-direita), nenhum dos quais detém a maioria absoluta.
Esta instabilidade corre o risco de inaugurar uma fase de turbulência financeira, que pode contaminar a Europa.
(com agências)