O Governo dos Estados Unidos respondeu na quarta-feira às denúncias, alegadamente feitas pelos serviços secretos dinamarqueses, de que estaria a promover operações de influência na Gronelândia com o intuito de incitar o debate sobre a secessão do território semiautónomo da Dinamarca, reafirmando o seu apoio ao direito à autodeterminação dos gronelandeses.

“Os Estados Unidos respeitam o direito do povo da Gronelândia a determinar o seu próprio futuro”, disse um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, num comunicado enviado aos media, citado pela Reuters.

Descrevendo como “produtiva” a reunião desse mesmo dia entre Lars Lokke Rasmussen, ministro dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, e Mark Stroh, encarregado de negócios da embaixada do EUA em Copenhaga, o porta-voz recusou-se a comentar as notícias da emissora dinamarquesa DR, baseadas em informações dos serviços secretos, de que três pessoas próximas da Administração Trump terão estado recentemente na Gronelândia a recolher informações sobre o território e a alimentar o debate sobre a sua independência e posterior adesão aos EUA.


“Não temos comentários a fazer sobre as acções de cidadãos americanos particulares na Gronelândia”, afirmou o representante do departamento liderado por Marco Rubio.

Antes disso, Rasmussen, que convocou Stroh – o diplomata de topo dos EUA na Dinamarca enquanto o empresário Ken Howery não assume o cargo de embaixador – para lhe exigir explicações sobre o caso, já tinha dito que “é óbvio que qualquer tentativa de interferência nos assuntos internos do reino [da Dinamarca] é inaceitável”.

O território dinamarquês no Atlântico Norte, onde os EUA têm uma base militar e espacial, tem estado debaixo dos holofotes desde que Donald Trump, Presidente norte-americano, afirmou que tem intenções de o anexar por motivos de “segurança nacional” e recusou excluir o uso da força para o fazer.

Ainda que maioritariamente coberta de gelo, a ilha gronelandesa é rica em recursos minerais e tem um posicionamento geoestratégico privilegiado para o acesso ao Árctico, onde a China e a Rússia têm investido atenção e recursos, antecipando o impacto do degelo dos glaciares no futuro das rotas comerciais no hemisfério norte.

A Gronelândia conquistou a semiautonomia em 1979, depois de ter sido uma colónia da Dinamarca durante vários séculos, que tem uma história de abusos sobre as populações locais. Em 2009, foi-lhe assegurado o direito a decidir que caminho quer trilhar para se tornar um Estado independente.

A grande maioria dos partidos gronelandeses define-se como independentista e tem a secessão como objectivo político, mas defende uma via ponderada e sustentada para o alcançar. Além disso, as sondagens realizadas no território com apenas 57 mil habitantes mostram que a grande maioria da população rejeita a adesão ou anexação pelos EUA.

Tanto o Governo dinamarquês como o executivo gronelandês insistem em que a Gronelândia “não está à venda” e acusam a Casa Branca de estar a levar a cabo uma “interferência grosseira” nos assuntos internos do território e da Dinamarca.