“Em um país fictício, um câncer social se alastra, silencioso e implacável”. A sinopse na contracapa de O Resgate (editora Papel da Palavra, 332 páginas) sintetiza a batalha da escritora paraibana Iêda Lima diante de seu mais novo romance, gestado entre o isolamento da pandemia e o enfrentamento de um câncer. O livro será lançado hoje, às 19h, na Livraria do Luiz do MAG Shopping.

Transitando de forma não linear entre passado, presente e futuro, O Resgate aborda o impacto do crime organizado sobre a juventude. A ideia surgiu em 2020, quando a autora vivia em São Paulo e acompanhava as recorrentes notícias sobre a expansão de organizações criminosas no país. “O que me assustava era o crescimento do crime organizado, antes com o tráfico de drogas, que começou a se expandir para o tráfico de armas”, recorda. 

Foto: Roberto Guedes

O cenário motivou a autora a refletir sobre a juventude, fazendo-se perguntas como: “o que os jovens de hoje estão percebendo e como eles vão se comportar futuramente?”, ou “quem são os jovens que foram conquistados por esse crime organizado?”.

“Tem os jovens que somente estudavam, ou estudavam e trabalhavam, ou os chamados ‘nem-nem’, que não faziam nenhum dos dois. Muitos foram aliciados e transformados em fogueteiros na época”, explica. Partindo de pesquisas em instituições federais e organizações não governamentais, Iêda criou múltiplos personagens para compor uma narrativa ambientada em um país fictício, mas que remete, em seu paratexto, ao Brasil e à América Latina.

O processo de escrita foi marcado por interrupções. Oito meses de isolamento renderam os primeiros capítulos, mas a dedicação precisou ser suspensa. “É ruim quando a gente para, porque perde o ritmo”, comenta. A escritora aproveitou uma janela após a primeira onda da pandemia, momento da queda do número de mortos, e mudou-se para Brasília, passando parte da pandemia a cuidar dos netos. Por lá, retomou o trabalho e pôde concluir o livro.

A saúde pessoal também interferiu de maneira drástica no ritmo de sua produção: um diagnóstico de câncer no cérebro. “Tive crises de delírio, fiz radioterapia durante um mês e sigo em quimioterapia até completar um ano. Mas a minha vontade de escrever era tão grande que eu não parei”, diz ela.

Iêda enveredou pelas letras após a aposentadoria, em 2016, tendo publicado, além de O Resgate, sua autobiografia Um Olhar no Retrovisor e Outro na Estrada (2017) e o romance Ruído do Silêncio (2019), contribuição contra o abuso sexual de crianças e adolescentes.

Segundo a autora, a obra pode ser lida, também, como um policial. “Há o tráfico, a formação das organizações criminosas, mas há também resistência, pessoas que acreditam que é possível superar esse poder”, acrescenta. E para além das tensões sociais, o livro traz espaço para sentimentos diversos. “Há muito amor, muita troca de afeto”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de agosto de 2025.