O movimento cívico SOS Cabedelo lançou esta quarta-feira um alerta para os riscos da para a erosão costeira e para a segurança da navegação na Figueira da Foz. Num comunicado de imprensa, a organização lamenta que a construção do bypass de areias da Figueira da Foz, para combater a erosão costeira, não vá avançar, apesar de “o projecto estar inscrito no Orçamento do Estado e ter verba cabimentada”.

“Lamentamos constatar que este projecto inscrito no Orçamento do Estado deste ano, por proposta do Governo, não seja para avançar. Sem o bypass [um sistema que transportará a areia retida a barlamar para as praias do Cabedelo e da Cova Gala, reclamado há mais de uma década pelo movimento cívico SOS Cabedelo], vamos voltar a perder a areia depositada nas praias do sul e a segurança da navegação na barra”, evidenciou Miguel Figueira, do movimento cívico SOS Cabedelo.

A preocupação do movimento cívico SOS Cabedelo surgiu depois de ter tido conhecimento do conteúdo de uma carta proveniente do gabinete da ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, em resposta a uma pergunta do Partido Livre.




A costa da Figueira cresce em areia do lado Norte do porto maritimo e diminui drasticamente a sul, obrigando a reposicao constante de sedimentos para manter o areal
Tiago Bernardo Lopes

A estratégia do ministério do Ambiente

No documento a que a agência Lusa teve acesso, pode ler-se que está prevista a submissão de uma candidatura ao Programa Acção Climática e Sustentabilidade (PACS) — Sustentável 2030 “para a obtenção de financiamento que possibilite a elaboração do Projecto de Execução, Estudo de Impacte Ambiental e Análise Custo Benefício do sistema fixo de transposição aluvionar [depósito de sedimentos trazidos pela água] da barra do porto da Figueira da Foz, seguida de candidatura a financiamento comunitário para a realização da empreitada”.

“Como forma de mitigar a erosão costeira, no concelho da Figueira da Foz, delineou-se uma estratégia de actuação, assente na reposição localizada e parcial do balanço sedimentar, através de alimentações artificiais de praia”, acrescentou.

No documento, é mencionado que, no curto prazo, está neste momento em execução a “Empreitada de Alimentação Artificial de Praia no Troço Costeiro a Sul da Figueira da Foz (Cova-Gala — Costa de Lavos)”, que se trata “da maior alimentação artificial alguma vez realizada em Portugal (cerca de 3,3 milhões de metros cúbicos de sedimentos), cuja longevidade estimada através da modelação numérica situa-se entre cinco a sete anos”.

Um plano “pouco sério”, responde SOS Cabedelo

Para o movimento cívico SOS Cabedelo, este é um adiamento “pouco sério”, por parte do Governo liderado por Luís Montenegro, e que resulta num grave prejuízo para a Figueira da Foz e para o país.

“Compromete a implementação da reposição do ciclo sedimentar, nos anos subsequentes ao big shot [a empreitada da transposição de 3,3 milhões de metros cúbicos de areia]. Lembramos que o objectivo do big shot não é o de ganhar tempo, mas antes o de iniciar o processo de reequilíbrio sedimentar, pelo que a implementação do bypass não pode mais ser adiada”, sustentou Miguel Figueira.

Para o activista, o argumento de cinco a sete anos, mencionado na carta do gabinete da ministra do Ambiente, nem sequer é aceitável.


“Adiar o projecto não é aceitável”

“Em matéria de ambiente impõe-se um compromisso intergeracional. A APA [Agência Portuguesa do Ambiente] tem obrigação de implementar soluções de médio a longo prazo e adiar o projecto não é aceitável”, sustentou.

Miguel Figueira disse ainda que já apelaram ao envolvimento do presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, numa carta enviada na semana passada.

“Este é o primeiro passo, porque ele é o representante desta comunidade e, pelo peso político que tem, acreditamos que pode dar o seu contributo. Naturalmente, estamos também a preparar-nos para manifestar publicamente o nosso desagrado, com acções que considerarmos oportunas e mobilizando a comunidade para reagir ao que consideramos ser uma desonestidade, que nos volta a colocar numa situação de perigosidade absolutamente inaceitável”, concluiu.