Numa visita inesperada à China para participar na cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou o papel fundamental de Pequim para manter o multilateralismo nas relações internacionais.
Não era esperado que Guterres comparecesse ao encontro que nos próximos dias vai juntar líderes como o Presidente russo, Vladimir Putin, ou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, na cidade portuária de Tianjin.
“Numa altura em que o multilateralismo está debaixo de fogo, o apoio da China (…) é um elemento extremamente importante para preservar”, afirmou Guterres este sábado, pouco depois de chegar à cidade da cimeira. “Vemos algumas novas formas de políticas que são por vezes difíceis de compreender, que por vezes se parecem mais com um espectáculo do que com esforços diplomáticos sérios, e nos quais os negócios e a política parecem também estar misturados”, acrescentou.
As palavras de Guterres parecem apontadas directamente ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobretudo à forma como tem tentado mediar um acordo de paz na Ucrânia, algo que, até ao momento, lhe tem escapado a todos os níveis.
“O papel da República Popular da China como pilar fundamental do sistema multilateral é extremamente importante e estamos extremamente gratos e reconhecidos por isso”, acrescentou o secretário-geral da ONU.
Ao seu lado, o Presidente chinês, Xi Jinping, mostrou-se disponível para “aprofundar a cooperação com as Nações Unidas” e a “apoiar o seu papel central nos assuntos internacionais”.
A visita inesperada de Guterres à China, nas vésperas da 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, não deverá cair bem junto de Trump que sempre se posicionou como um crítico da ONU e da sua proximidade em relação ao regime chinês.
Na véspera de viajar até à China, onde será o convidado de honra para a parada militar que comemora o final da II Guerra Mundial no país, Putin reafirmou o desejo de aprofundar as boas relações com Pequim e criticou o que disse ser o revisionismo histórico feito pelo Ocidente em relação ao conflito que terminou há 80 anos.
“Os factos históricos inconvenientes estão a ser apagados e a verdade histórica está a ser distorcida e suprimida para se adaptar às suas agendas políticas actuais”, afirmou Putin numa entrevista à agência estatal Xinhua, publicada este sábado.
O Presidente russo, responsável pela primeira guerra de agressão no continente europeu desde o fim da II Guerra Mundial, criticou o ressurgimento do “militarismo japonês” que acontece “sob o pretexto de ameaças imaginárias russas e chinesas”, bem como a “remilitarização” da Europa que está a encorajar o “revanchismo e o neonazismo”.
“A Rússia e a China condenam em absoluto quaisquer tentativas de distorcer a história da II Guerra Mundial, de glorificação dos nazis, militaristas e seus cúmplices, membros de esquadrões da morte e assassinos, ou de difamação dos libertadores soviéticos”, afirmou Putin.
Desde que a Rússia lançou uma invasão em larga escala da Ucrânia, há mais de três anos e meio, que as relações com a China se têm aprofundado, embora Pequim insista na condição de país neutro em relação a este conflito e até se tenha disponibilizado para mediar uma solução diplomática.
Porém, a China é vista como tendo um papel fundamental para manter a economia russa, alvo de pesadas sanções por parte da Europa, EUA e outros países ocidentais, à tona e como fornecedora indirecta de materiais usados para alimentar a máquina de guerra da Rússia.