O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, insistiu este sábado que, sem resolver a questão dos baixos salários em Portugal, o país irá continuar exposto a aumentos da taxa de inflação como a verificada em Agosto.

Questionado pela Lusa sobre o facto de a taxa de inflação ter aumentado para 2,8% em Agosto, ficando 0,2 pontos percentuais acima da variação de Julho, segundo a estimativa provisória divulgada na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), Paulo Raimundo afirmou que a solução passa por resolver o “problema estrutural que se chama salários e rendimentos, mas, em particular, os salários”.

“Também ficámos a saber que a economia tinha crescido 1,9% no último trimestre. Convenhamos que 1,9% não é crescimento. É melhor 1,9 do que zero, mas tudo o que seja abaixo dos 2% não tem consequência nenhuma na economia, na vida das pessoas. E, portanto, enquanto não resolvermos o problema dos salários, de um aumento significativo dos salários, de um choque salarial, que nós andamos a propor há tanto tempo, vamos andar sempre nisto”, defendeu o líder comunista.

Em declarações em Paredes, no distrito do Porto, prosseguiu: “É claro que a questão dos salários não tem a ver exactamente com isso, tem a ver fundamentalmente com os preços. E se há coisa que nós sentimos todos, e sabemos todos, independentemente dos salários que temos, é um aumento do custo de vida que não tem parado”.


Ainda sobre o tema, Paulo Raimundo sublinhou que “os valores da inflação, como sempre, deixam de fora uma parte importante da despesa da vida das pessoas, que é com a habitação”, o que significa que “as outras componentes, desde logo o preço dos alimentos, que tem disparado de forma exponencial, têm vindo a crescer [exercendo] muita pressão sobre a vida das pessoas. E, portanto, o aumento dos salários não resolve tudo, mas dá um jeito na vida das pessoas, até para enfrentar esses números, porque isto tem consequências”.

Reunião com Governo não é sobre Orçamento

O secretário-geral comunista disse ainda que a reunião com o Governo na próxima semana incidirá sobre quatro pontos, entre os quais as Grandes Opções do Plano, mas recusou que um dos temas seja o Orçamento do Estado para 2026.

“Fomos convocados pelo Governo para uma reunião com quatro pontos. Nenhum desses pontos tem a ver com o Orçamento de Estado. Posso-lhe garantir. Das duas, três. Ou alguém anda a fazer contrabando de informação ou então o Governo convocou partidos para reuniões diferentes”, respondeu à Lusa.

Na quinta-feira passada, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Carlos Abreu Amorim, anunciou que o Governo irá iniciar, na próxima quarta-feira, um conjunto de reuniões com os grupos parlamentares e deputados únicos “sobre várias questões”, entre as quais o Orçamento do Estado para o próximo ano.

Questionado sobre os quatro pontos da agenda que referiu, Paulo Raimundo disse que um deles “tem a ver com as Grandes Opções do Plano, que não é o Orçamento de Estado”. Os outros “têm a ver com aspectos internacionais“, escusando-se a divulgar os aspectos em concreto.

“Também sabemos que temos dois partidos, na prática, que se andam a acotovelar um ao outro para ver quem é o mais cúmplice das opções do Governo. O PS e o Chega estão a ver quem é o mais cúmplice. Aquele que, desculpe a expressão, um bocadinho assim a roçar o grosseiro, mas para ver quem é a noiva deste Governo”, acrescentou o líder comunista, admitindo “que os candidatos à noiva do Governo tenham outro tipo de espaços”.