Noam Yaron / Instagram

O nanador suíço Noam Yaron numa das suas travessias

Durante 102 horas e 24 minutos no mar, Noam Yaron enfrentou milhares de medusas que o picaram, sofreu queimaduras devido ao atrito do sal com o fato, teve alucinações, e um momento de pura alegria: um golfinho bebé que veio brincar com ele. Fez 191 km, mais 11 do que o recorde que queria bater.

No dia 11 de agosto, o nadador suíço de resistência Noam Yaron entrou no mar Mediterrâneo, em Calvi, na Córsega, atravessar 180 km a nadar até ao Mónaco.

O objetivo era bater o recorde mundial da mais longa travessia em fato isotérmico. Conseguiu, embora tenha ficado, de forma dolorosa, a apenas 2 km do destino, conta o ExplorersWeb.

O percurso levou-o a atravessar o Santuário Pelagos, a maior área protegida do Mediterrâneo. Duas embarcações de apoio acompanharam-no durante toda a prova: uma mantinha-se ao seu lado, a rebocar uma corda-guia para o ajudar a manter o rumo, enquanto a outra seguia ligeiramente atrás.

Yaron começou em grande ritmo, percorrendo 16 km nas primeiras cinco horas — uma marca de grande nível.

Durante o percurso, Yaron vários encontros quase imediatos com medusas. Embora o fato o protegesse na maior parte do corpo, as poucas zonas expostas — sobretudo o rosto e as mãos — foram atingidas pelas picadas.

Após 15 horas, tinha percorrido 43 km. A primeira noite revelou-se tão aterradora que mais tarde a descreveu como “a noite mais assustadora da minha vida”.

Durante a escuridão, o barco de apoio lançou uma corda iluminada. A equipa acredita que isso poderá ter atraído a vida marinha. Milhares de medusas pareceram emergir das profundezas, picando-o repetidamente no rosto.

Apesar disso, houve um momento de pura alegria: um golfinho bebé quase colidiu com o nadador, e brincou com ele junto à corda.

Ao longo do segundo dia e terceiro dias, Yaron lutou contra o calor e a fadiga crescente. No dia 13 de agosto, ultrapassou a marca dos 103 km, a maior distância que alguma vez tinha nadado. Foi precisamente aí que, um ano antes, a sua tentativa tinha fracassado, forçado a desistir devido ao mau tempo.

Desta vez, contudo, as condições estavam melhores: o vento rondava os 10 nós, o mar agitava-se mas de forma suportável, e Yaron manteve o esforço.

A fadiga começava agora a cobrar um preço cada vez mais visível para a sua equipa de segurança. Após 48 horas na água, começou a ter alucinações: via castelos a erguer-se do mar e ouvia vozes na cabeça. Recorreu até a micro-sestas, usando a corda-guia para se manter a flutuar.

A 14 de agosto, alcançou os 165 km. Declarou estar “a sofrer como nunca antes”. Chegou a acreditar que atingiria o Mónaco por volta das 23 horas desse dia, mas o ritmo tinha abrandado drasticamente.

No troço final, percorreu apenas dois quilómetros em dez horas. O corpo tinha sido levado ao limite absoluto; encontrava-se desorientado e em risco de hipotermia, apesar do fato isotérmico.

Depois de 102 horas e 24 minutos no mar, e de ter conseguido nadar uns extraordinários 191 km, mais 11 do que o previsto, Yaron foi retirado da água — a apenas dois quilómetros da meta, no Mónaco.

A decisão foi inevitável. A água salgada tinha-lhe provocado um inchaço tão severo na boca e na língua que já mal conseguia respirar e não conseguia alimentar-se.

O atrito entre o fato e o sal na pele deixara entre 10 a 15% do corpo coberto de queimaduras de segundo grau. Foi levado de urgência para o hospital, onde permaneceu durante nove dias.

Nos dias seguintes, a sua equipa partilhou breves atualizações, informando que estava a recuperar, que a voz regressaria com o tempo e que, apesar do enorme desgaste, a sua condição estava a melhorar.

Na quinta-feira, o nadador suíço partilhou no Instagram os seus primeiros comentários, ainda com as marcas da sua proeza visíveis nos lábios. “Após 191 km e 102 horas passadas na água, encontrei o meu limite“, escreveu.

Esta travessia foi o culminar de anos de desafios e preparação do nadador suíço. Em 2021, atravessou o Lago Léman em 19 horas e 53 minutos. No ano seguinte, nadou consecutivamente os cinco maiores lagos da Suíça em 60 horas e 40 minutos, consolidando a sua reputação na natação de resistência em águas abertas.

Embora não tenha concluído a prova como planeado, aqueles dois quilómetros finais não diminuem a enorme conquista que foi nadar durante cinco dias e quatro noites através do Mediterrâneo.


Subscreva a Newsletter ZAP


Siga-nos no WhatsApp


Siga-nos no Google News