O presidente do Conselho Europeu, António Costa, saiu em defesa do acordo fechado entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA) para a aplicação de uma taxa aduaneira de 15% à maior parte das exportações europeias, considerando que a opção dos 27 pela negociação em vez da retaliação, que permitiu evitar uma guerra tarifária com o seu maior parceiro comercial, foi a decisão mais inteligente e responsável.

“A escalada das tensões com um aliado fundamental por causa das tarifas, enquanto a nossa fronteira oriental está sob ameaça, teria sido um risco imprudente”, afirmou António Costa, num discurso no Fórum Estratégico de Bled, na Eslovénia, esta segunda-feira, onde recordou que “estabilizar as relações transatlânticas, e garantir o envolvimento dos EUA na segurança da Ucrânia, tem sido uma prioridade máxima” para a UE desde o início do ano, quando Donald Trump regressou à Casa Branca.

Sem nunca referir explicitamente nem o nome nem as ameaças do Presidente norte-americano, Costa disse estar “ciente” da “frustração” dos europeus com a aparente “passividade” da UE, que se revelou incapaz de influenciar o desfecho dos “dois acontecimentos importantes” que marcaram o Verão: as negociações comerciais com Washington, e os esforços diplomáticos em torno da guerra na Ucrânia.

Na rentrée depois das férias, o presidente do Conselho Europeu deixou claro que discorda daqueles que criticam o compromisso aceite por Bruxelas em nome da estabilidade e previsibilidade da actividade económica. “Não fomos nós que iniciámos uma guerra comercial. Mas sim, abstivemo-nos de retaliar para proteger os nossos interesses.”, justificou António Costa que, como muitos outros líderes da UE, reconheceu que o acordo fechado com a Administração norte-americana ficou muito aquém das expectativas.

“Não comemoramos o retorno das tarifas, nem as limitações deste novo quadro comercial tão desequilibrado”, afirmou. Mas num “mundo interconectado” e onde “o comércio, a diplomacia e a segurança se influenciam mutuamente”, a opção pelo “diálogo”, e a “contenção” em detrimento da escalada, foram as escolhas mais “responsáveis”, considerou. “Devemos ser honestos sobre o panorama geral”, frisou Costa, lembrando que “a segurança — especialmente quando temos uma guerra à nossa porta — é uma preocupação existencial” para a UE.

E como as negociações com a Casa Branca ainda vão prosseguir, o presidente do Conselho Europeu quis deixar um recado, tanto para fora como para dentro. “A diplomacia nunca deve ser confundida com complacência. Os nossos parceiros, incluindo os EUA, devem saber que a UE defenderá sempre a sua soberania, os seus cidadãos, as suas empresas e os seus valores”, declarou.


Para Costa, os desenvolvimentos dos últimos meses vieram confirmar que os europeus não podem “continuar a depender apenas dos seus aliados” para serem capazes de enfrentar e responder a ameaças.

“Temos de nos tornar mais autónomos, mais resilientes e mais preparados para agir. Mais soberanos!”, apelou, repetindo as palavras utilizadas pelo ex-presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro-ministro italiano, numa conferência em Rimini, a 22 de Agosto: segundo Mario Draghi, os acontecimentos deste Verão “puseram fim a qualquer ilusão de que a dimensão económica, por si só, garantiria uma forma de poder geopolítico” à UE.

Segundo garantiu o presidente do Conselho Europeu, “a ingenuidade geopolítica da UE chegou ao fim”: a prova disso é a aposta concertada no aumento do investimento em defesa, que também vai “aumentar a nossa credibilidade e influência no cenário global”, espera.

De resto, a estratégia passa pela construção de “parcerias comerciais e industriais mais fortes em todo o mundo” — tanto com a conclusão dos acordos que estão a ser negociados com o Mercosul, México, Índia, Indonésia, Filipinas e Tailândia, como com o desenvolvimento dos projectos financiados pela Global Gateway na Ásia Central, no Cáucaso do Sul, na América Latina e em África.

“Os EUA representam 20% das nossas exportações, mas os restantes 80% da economia global também são importantes, e a Europa deve envolver-se mais activamente com eles, porque são os acordos comerciais, e não as tarifas, que trazem benefícios reais para os países, as empresas e os cidadãos”, assinalou.