Layla Luna tem apenas 20 anos, mas a sua arte já passou por grandes galerias de Veneza, de Nova Iorque ou de São Paulo. A brasileira natural de São Paulo, que viveu quatro anos nas Caldas da Rainha, entre os 13 e os 15, está agora nos Países Baixos (Arnhem), para estudar Belas Artes na universidade dos seus sonhos.
Layla descobriu a sua paixão pelas artes e, em particular, a pintura com uma idade muito precoce. “Quando era pequena, não gostava de bonecas, de nada. Para os meus pais foi muito complicado no início, porque compravam-me brinquedos e eu simplesmente olhava, dizia que era legal, mas não brincava nunca mais”, conta. Até que a mãe descobriu que Layla era apaixonada por desenhar e pintar. “Se pudesse, eu passava o dia inteiro a pintar, conta-me a minha mãe. Ainda sou assim”, confessa.
Empreendedora, registou a sua marca “Layla Luna” com 15 anos, depois de já vender as suas pinturas desde a viragem dos 13 para os 14 anos. Ao criar a sua empresa, começou a participar em feiras aos fins de semana ou nas férias. Nos dias de semana, à noite, trabalhava nos quadros que lhe encomendavam, maioritariamente retratos. “Isso permitiu-me melhorar a minha técnica, e então comecei a trabalhar nos meus próprios quadros autorais”, durante o seu ano sabático, os quais expôs em bares-galerias.
Foi nessa altura, com 19 anos, que deu o grande salto, quando realizou a sua primeira exposição internacional, “Terra: Pré-Bienal Amazônia”, na Venice Art Biennale 2024, em Veneza. “Expus três obras minhas, e graças a isso recebi um ótimo convite, o de participar noutras duas exposições, a G20 Brasil 2024, no Rio de Janeiro, e a outra em Nova Iorque, em parceria com uma das galerias que expunham em Veneza, a Saphira & Ventura Gallery”, continua. E as suas pinturas continuam pela Big Apple, onde já estiveram em duas exposições, “e estão a caminho da terceira”, anuncia a jovem e promissora artista, que também já expôs em São Paulo. De resto, não há nenhum quadro escondido em casa. “Graças a Deus todas as minhas obras estão em galerias agora”, revela.
Porém, agora é tempo de “pausar a vida profissional”, para “poder crescer ainda mais”. Layla está há um mês nos Países Baixos e começa esta semana as aulas na ArtEZ – University of the Arts, em Arnhem, uma cidade a cerca de 40 minutos de Amesterdão. “Sempre sonhei ir para a faculdade, e os artistas que conheci nas exposições em que participei ainda me deram mais força para o fazer, porque me diziam que para um artista é muito importante ter um diploma”, conta.
“Comecei a pesquisar faculdades em Portugal, e também visitei algumas com a escola, mas nenhuma me fez sentir que, Uau, é esta!”, e então “vamos procurar lá fora”, recorda. “Comecei por pesquisar faculdades nos países do Sul da Europa, porque, como brasileira, sofro com o frio. Fui ver Itália, mas os cursos eram todos em italiano, fui ver a Espanha, os cursos eram todos em espanhol. Então, disse para mim própria, vou ter de prescindir desse mimo”, continua. E então, “depois de dois anos a procurar, encontrei a faculdade dos meus sonhos, a ArtEZ”.
“Vi que o meu curso tinha sido premiado, fui analisar os antigos estudantes e atualmente estão todos a trabalhar em galerias conhecidas e valorizadas no mercado de arte, e eles voltam muitas vezes à faculdade para dinamizarem workshops, para falarem da experiência”, partilha.
“Preciso entrar nessa faculdade”
“Não perdi tempo, fiz a minha candidatura”, continua Layla. Eis chegado o tão ansiado momento de fazer as provas… E uma febre de 38 graus e meio também. As provas de admissão consistiam em seis trabalhos, de pintura, escultura, escrita, música, vídeo, etc., que Layla teve de realizar num prazo de uma semana e meia. “Tenho a alegria de ter tido a ajuda e o apoio emocional da minha família, em especial da minha mãe, que me esteve sempre a dizer: ‘Filha, só faz que dá certo’”.
E deu mesmo. Layla seguiu para a fase das entrevistas, que foram três. Mas desta vez a sorte esteve do seu lado. “Os nossos entrevistadores são-nos atribuídos aleatoriamente, e eu tive o prazer de falar com a coordenadora do curso que eu queria fazer, que, por acaso, é portuguesa. Eu fiquei maravilhada, né? Saímos do nosso país, vamos à luta, trabalhamos, e ela está como chefe do departamento mais concorrido da faculdade”, afirma.
O ano académico de Layla está prestes a ter início. “Estou animadíssima para começar as aulas”, todas em inglês, exclama. Afinal, o seu curso, Fine Arts (ou Belas-Artes, em português), oferece uma panóplia de opções para explorar. “Vou ter aulas de desenho, pintura, cerâmica, fotografia, aula 3D, enfim, um monte de coisas novas”, conta, entusiasmada.
“Há duas semanas que estou a ter dias introdutórios, em que vamos para a faculdade, conversamos com os professores, com antigos e atuais alunos, e a maioria das pessoas entra assim como, falando que vão ser pintoras, e saem dançarinos, ou noutro ramo de arte totalmente diferente. Então estou muito curiosa para poder experimentar”, até porque “sempre gostei muito de cerâmica e de esculturas”, conta.
“Acho importantíssimo ser versátil, até nas galerias com quem eu tenho trabalhado têm-me dito, olha, é interessante para o artista trazer pinturas, mas também outros tipos de arte”. Além de que Layla estudou teatro durante vários anos no Brasil, seguindo as pisadas da mãe, que era produtora de cinema. E a artista garante: “Quando concluir a licenciatura, vou fazer o mestrado, e por aí em diante”.
Uma trabalhadora-estudante internacional
Layla está decidida a aproveitar ao máximo estes tempos nos Países Baixos e a dar o seu melhor, seja na faculdade, seja no trabalho, em part-time. “Não é fácil ser imigrante pela segunda vez, mas vamos nessa, é vida que segue! Estou animadíssima para trabalhar!”, garante.
A artista está a trabalhar na cafetaria do museu oficial de arte da sua cidade, durante os fins de semana, das 9 às 18 horas. “Lá disseram-me que posso passar para a área de informações, crescer. As atuais guias começaram na cafeteria. Há quem vá direto, mas como ainda não falo holandês, não posso ir ainda para a receção do museu”, explica, acrescentando que está cheia de vontade de aprender a língua.
No meio de tantos planos, Layla garante que não vai abandonar o seu projeto pessoal. “Não vou ter tanto tempo para me dedicar ao meu projeto profissional, mas vou continuar a criar conteúdos para o Instagram; quero falar dessa vida de artista, porque eu costumava seguir, quando era criança, muitos artistas que iam para a faculdade, e eu amava, eu sempre sonhei ir para a faculdade. Então, agora eu também quero falar sobre a faculdade”, revela.
“Não quero parar de criar, porque, querendo ou não, trabalhei quatro, quase cinco anos já na minha própria empresa, e não vou deixá-la de lado. E o Instagram vai ser uma forma de eu continuar. Não é abdicar a 100 por cento da minha vida profissional, mas sim dar um espaço para poder crescer mais, para depois voltar com tudo.”
Layla afirma, feliz, que desde este ano que já é oficialmente portuguesa. Brasileira e portuguesa. “O meu lado português fica muito feliz. Tenho toda uma trajetória em Portugal,, o meu país de conforto por muitos anos, onde iniciei a minha carreira de artista, e onde recebi muito apoio de portugueses maravilhosos, tanto artistas quanto clientes, que até hoje me acompanham”, diz, agradecida.
Aos 20 anos, Layla Luna tem o mundo na mão, e promete continuar a surpreender-nos, com a sua arte que é melhor mesmo verem por vós, no seu Instagram. “Eu acredito que vai dar tudo certo. Melhor do que como planejado”, remata.
Carregue na galeria para conhecer o incrível trabalho da Layla Luna.