O Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, voltou a declarar mais uma “vitória histórica” nas eleições de domingo, conseguindo assegurar 285 municípios (de um total de 335 em disputa), num acto eleitoral em que participaram apenas 44% dos votantes inscritos (cerca de seis milhões de pessoas).

Segundo os resultados anunciados pela comissão eleitoral venezuelana, no domingo, dia 27 de Julho, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) conquistou as principais câmaras municipais (prefeituras) do país, incluindo a segunda maior cidade da Venezuela, Maracaibo, que era, até agora, um dos bastiões da oposição.

Nesta cidade portuária, relevante para o comércio petrolífero do país, foi eleito o advogado Gian Carlo Di Martino, que já havia sido prefeito da cidade entre 2000 e 2004 e aliado de Hugo Chávez.

O PSUV garantiu também a reeleição de Carmen Meléndez na capital, Caracas, onde se concentram as principais instituições do Estado, e que está nas mãos do chamado “oficialismo” há 25 anos.

O poder do PSUV foi reafirmado também noutras grandes cidades como Valencia, Maracay e Mérida, e alargou o seu âmbito territorial, tendo passado de um total de 212 municípios, para 285.

“Podemos afirmar que obtivemos uma vitória contundente e histórica para as forças da revolução bolivariana”, destacou Maduro, já durante a madrugada de segunda-feira, 28 de Julho, citado nos media venezuelanos.

Em contrapartida, a oposição conseguiu manter cinco bastiões: Chacao, Baruta, Lechería, Maneiro e El Hatillo, segundo a emissora Globovision. Dentro da oposição, o partido que mais ganhou espaço foi a Fuerza Vecinal, de acordo com o site noticioso Brasil de Facto (BdF).

As eleições decorreram “sem incidentes”, segundo a comissão eleitoral, mas, durante o dia, de acordo com a RTVE, houve um momento em que o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, denunciou uma violação do espaço aéreo venezuelano por um avião de espionagem norte-americano.

Nada que ensombrasse a vitória do PSUV e dos seus aliados do Gran Polo Patriótico Simón Bolívar, a aliança de partidos de esquerda e movimentos populares que apoia o Governo bolivariano de Maduro que, no discurso de vitória, não deixou passar em claro as eleições presidenciais de 28 de Julho de 2024.

“Há um ano estávamos numa eleição para derrotar o fascismo. Derrotámos. Agora dou as boas-vindas aos 50 prefeitos da oposição e peço trabalho, paz, democracia e coexistência nacional”, afirmou o Presidente venezuelano, que também dedicou a vitória a Hugo Chávez, que teria completado 71 anos nesta segunda-feira (morreu em Março de 2013).

Nas eleições de 2024, a comissão nacional de eleições controlada pelo Governo deu a vantagem a Nicolás Maduro por 51,20% dos votos (sem divulgar as actas para o comprovar), apesar de a contagem apresentada pela PUD reclamar um total de 66,23% dos votos para Edmundo González (o candidato apoiado por Machado).

Os resultados foram rejeitados pela oposição e reconhecidos por diversos países como fraudulentos, mas os protestos nas ruas foram esmagados com forte repressão policial e centenas de detenções.

“País em efervescência”

Tal como já havia acontecido nas eleições regionais de Maio, a principal coligação da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), cujo principal rosto é María Corina Machado, decidiu não participar nas eleições, apelando à abstenção dos venezuelanos.

Machado, que está na clandestinidade para escapar à vaga de detenções arbitrárias ordenada por Maduro depois das presidenciais, reafirmou nesta segunda-feira, numa entrevista publicada no El País, que considera que o “chavismo” tem os dias contados.

“Obviamente, Maduro vai sair. Mais cedo ou mais tarde, vamos tirá-lo do poder, porque essa foi uma decisão do povo”, disse a líder da oposição, referindo-se às eleições presidenciais do Verão passado.

Salientando que “a comunidade internacional está em dívida com a Venezuela” e que deveria ter exercido maior pressão para que os resultados eleitorais fossem reconhecidos, Machado assegurou que, ainda que não se vejam multidões nas ruas, o regime venezuelano “tem medo”, pois sente que “há um país em efervescência”.

O 28 de Julho de 2024 foi o início de “um processo irreversível”, que será “o detonador da liberdade da Venezuela”, afirmou.

Edmundo González, que está exilado em Madrid (e cujo genro, Rafael Tudares, permanece detido em parte incerta), também disse ao El País que, tal como Machado, continua a lutar para “recuperar a vontade popular expressa em Julho passado”.

“Acredito que muitos governos estão cientes de que isso foi uma grande fraude [o resultado eleitoral] e, por essa razão, deixaram de reconhecer o regime de Nicolás Maduro. Estamos a fazer tudo o que temos de fazer. Eu, de fora, e María Corina, de dentro, com todas as limitações que ela tem.”