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A Coreia do Norte revelou, através da sua televisão estatal, que a ordem de Kim Jong Un para enviar tropas para apoiar a Rússia na guerra contra a Ucrânia foi dada a 28 de agosto de 2024. Trata-se da primeira confirmação oficial de Pyongyang sobre o momento em que o líder norte-coreano decidiu envolver diretamente as suas forças no conflito.

Segundo autoridades sul-coreanas, até ao final de outubro do ano passado cerca de 11 mil militares norte-coreanos tinham chegado à região russa de Kursk. No início deste ano, mais 3 mil reforços foram enviados após as forças de Pyongyang terem sofrido baixas significativas.

Esta é a primeira vez que a Coreia do Norte participa militarmente num conflito fora das suas fronteiras. A decisão de Kim só foi reconhecida pelo regime em abril, meses depois de imagens de satélite e fotografias de campo de batalha indicarem também o envio de mísseis e projéteis de artilharia para Moscovo. Em contrapartida, os Estados Unidos e aliados acreditam que o Kremlin fornece tecnologia e apoio técnico a Pyongyang.

Um ano de combate e milhares de baixas
O canal estatal Korean Central TV exibiu no domingo um programa de homenagem aos “heróis” mortos em combate contra as forças ucranianas. Entre as imagens mostradas esteve uma fotografia de Kim com altos responsáveis da Defesa, acompanhada de uma diretiva que referia a necessidade de “libertar Kursk”, datada de 28 de agosto.

A ordem de Kim surgiu três semanas depois de a Ucrânia lançar uma contraofensiva em Kursk e dois meses após a assinatura, em junho de 2024, de um pacto de assistência militar mútua entre Kim Jong Un e o presidente russo Vladimir Putin.

Na mesma emissão foram transmitidas imagens de uma cerimónia realizada na sexta-feira, em que Kim encontrou-se com famílias de soldados mortos na guerra. O líder norte-coreano entregou retratos enquadrados dos militares caídos, envolvidos na bandeira nacional, e referidos pelos meios oficiais como “mártires que realizaram feitos distintos nas operações militares no estrangeiro”.

Kim apelou ainda a que os filhos dos soldados mortos sejam educados como “elementos duros da revolução”.

De acordo com a agência de informação sul-coreana, estima-se que as baixas da Coreia do Norte ultrapassem os 4.700 soldados — mais de um terço do contingente inicialmente enviado — incluindo cerca de 600 mortos.

Na mesma transmissão televisiva, Kim Jong Un afirmou: “Consideraremos a guerra na Ucrânia como a nossa própria guerra, e qualquer violação da soberania da Rússia pelos Estados Unidos e pelo bloco ocidental como uma violação da nossa própria soberania. Unamo-nos para apoiar os combatentes antifascistas na Ucrânia e defender a soberania!”

Do lado norte-americano, o almirante Samuel Paparo, chefe do Comando Indo-Pacífico dos EUA, declarou perante legisladores em abril que a aliança entre Moscovo e Pyongyang representa “uma simbiose transacional onde cada Estado supre a fraqueza do outro em benefício mútuo”.

A inteligência militar da Ucrânia avalia que a Coreia do Norte poderá enviar até 30 mil militares adicionais para reforçar o esforço de guerra.

Entretanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se reuniu no mês passado com Vladimir Putin no Alasca, afirmou que dará ao líder russo “um par de semanas” para mostrar disposição em negociar o fim da guerra, antes de anunciar novas medidas punitivas.

Ainda esta semana, Kim Jong Un e Vladimir Putin vão encontrar-se em Pequim, onde participarão no desfile militar organizado pela China para assinalar os 80 anos da rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial. Será a primeira vez que os líderes da China, da Rússia e da Coreia do Norte estarão juntos num mesmo evento.