As novas diretrizes da European Society of Cardiology (ESC) [1] para melhorar o diagnóstico e o cuidado de pacientes com miocardite e pericardite foram publicadas no início da edição deste ano do congresso, realizada em Madri (Espanha). É a primeira vez que a sociedade publica diretrizes sobre miocardite e também a primeira ocasião em que são oferecidas recomendações clínicas conjuntas para miocardite e pericardite. Estas novas diretrizes buscam otimizar o diagnóstico e o tratamento, bem como ajudar os pacientes a retomar mais rapidamente a atividade física e o trabalho.

Os dados sobre a prevalência de miocardite e pericardite na população geral são limitados. Um registro de doenças reportou uma incidência de miocardite aguda de 6,3 a 8,6 por cada 100.000 habitantes, principalmente em homens jovens, possivelmente devido a fatores hormonais. Os homens e pacientes jovens têm mais probabilidades de ser diagnosticados, embora não esteja claro se é porque têm maior risco ou simplesmente são mais propensos a receber um diagnóstico. A incidência de pericardite aguda é estimada em 3 a 32 casos por cada 100.000 pessoas-ano. Em casos de morte súbita cardíaca em adultos jovens, as autópsias mostraram que a miocardite foi atribuída em 1,1% a 12% dos casos.

Os elementos-chave da diretriz incluem:

  • A miocardite e a pericardite estão amplamente subdiagnosticadas. Para aumentar a conscientização sobre este espectro de doença e melhorar a oportunidade diagnóstica, é introduzido o termo guarda-chuva “síndrome miopericárdica inflamatória”.

  • A diretriz tem algoritmos e diagramas de fluxo intuitivos para ajudar os profissionais a reconhecer, diagnosticar e tratar a miocardite e a pericardite, com o objetivo de melhorar os resultados clínicos.

  • São fornecidas recomendações para ajudar os pacientes a voltarem ao trabalho e à prática de atividades físicas mais rapidamente, mediante testes complementares (p. ex., ressonância magnética cardíaca) que confirmem a segurança. Neste sentido, é mencionado que quando um paciente tem diagnóstico de miocardite ou pericardite, pede-se que se abstenham de atividades diárias. No entanto, testes adicionais como ressonância magnética cardíaca podem ajudar a avaliar se é aconselhável retomar o exercício e o trabalho, favorecendo a recuperação e um retorno mais rápido à vida habitual.

  • É incluída uma lista de sinais de alerta para profissionais de saúde, incluindo sinais clínicos ou biomarcadores, que podem ser pistas para a detecção de miocardite e pericardite, melhorando o tempo de diagnóstico.

  • É recomendado realizar uma avaliação completa que inclua história clínica, exame físico, radiografia de tórax, testes de biomarcadores, eletrocardiograma e ecocardiografia.

  • Em caso de pacientes com síndrome miopericárdica inflamatória recorrente, sugere-se a consideração de uma causa genética e a realização de testes genéticos.

  • É recomendado que os pacientes com síndrome miopericárdica inflamatória complicada recebam cuidado por uma equipe multidisciplinar com experiência em doenças cardiovasculares (por exemplo, especialistas em imagens, em doenças infecciosas, cirurgiões, intensivistas e geneticistas).

As diretrizes são endossadas pela European Association of Paediatric and Congenital Cardiology (AEPC) e pela European Association of Cardiothoracic Surgery (EACTS).

A Dra. Cecilia Bahit é cardiologista, formada pela Universidad de Buenos Aires, e atualmente é chefe do Departamento de Cardiologia de INECO Neurociências Oroño, em Rosário, Argentina.