A Premier League deu um arraso completo em todas as outras grandes ligas em termos de capacidade para fazer movimentar milhões, os outros principais clubes dos maiores campeonatos europeus optaram por ser mais cirúrgicos do que megalómanos, a febre do investimento chegou também a Portugal. Depois de alguns mercados mais comedidos onde a parte das receitas foi superando a das compras, Benfica e FC Porto fizeram uma aposta superior aos 100 milhões de euros cada para dotarem os respetivos plantéis de mais e melhores soluções do que na última época. Até mesmo o Sporting, que acabou por ser o mais comedido com maiores receitas com vendas do que em investimento em compras, teve outro jackpot com Gyökeres como já tivera no negócio Quenda e Essugo, fez uma oferta de 40 milhões e protagonizou a rábula do último dia. Porquê?
Último dia de mercado. Sporting consegue acordo com Nottingham Forest por Jota Silva
Há um ponto de contacto no objetivo, há razões diferentes a explicar esse mesmo objetivo. O Sporting tem como meta clara a conquista do tricampeonato como não acontece desde a década de 50, jogando com o atual momento de “viragem” que se sente em Alvalade, mas foi prudente nos investimentos feitos, acreditando que a base criada, que perdeu apenas Viktor Gyökeres, é o melhor dos reforços – algo que pode ficar abalado pela falta de mais uma unidade para o setor ofensivo que falhou no último dia. Da parte do Benfica, a falta de títulos nos últimos anos e as eleições com seis candidatos que se vão realizar em outubro funcionaram como uma espécie de conjugação cósmica para aumentar o risco. Do lado do FC Porto, gorada outra experiência falhada com Martín Anselmi no comando, Villas-Boas assumiu claramente o passo atrás para dar de seguida dois à frente já com Francesco Farioli como técnico, criando uma nova base para ficar mais perto do sucesso.
Depois de uma época marcada pelo bicampeonato 71 anos depois e pela dobradinha 23 anos depois, havia um ponto que permitia que tudo fosse encarado de forma mais “tranquila” em termos de mercado: Viktor Gyökeres iria sempre sair, sendo impossível pensar até em termos internos em mais uma temporada com o sueco, o sucessor iria sempre envolver um montante mais baixo do que a verba recebida pelo escandinavo. O perfil era diferente, o plano A foi concretizado: Gyökeres rumou ao Arsenal depois de uma longa novela num negócio que poderia chegar aos 76 milhões de euros sem pagamento de comissões, Luis Suárez chegou do Almería por 22,1 milhões fixos mais variáveis. Não ficariam por aqui as mudanças no ataque, com Conrad Harder a querer sair para ter mais minutos (além de perceber que não seria uma aposta real de Rui Borges) e Fotis Ioannidis a chegar a Alvalade uma temporada depois em negócios que se “pagaram” entre eles.
O número de avançados ficava o mesmo, as características mudavam, o grego trazia mais traços do ataque à profundidade que se perdera com a saída de Gyökeres. E foi essa a tendência em relação às restantes vindas para a Alvalade, com a dúvida que permaneceu até à última hora do último dia de mercado sobre a hipótese de vir ainda mais um ala para a esquerda tendencialmente destro. Jota Silva parecia ser o único reforço, depois de um longo braço de ferro com o Nottingham Forest até ao acordo em cima da hora com uma taxa de 4,5 milhões de euros pelo empréstimo mais uma cláusula de compra de 15 milhões, mas a documentação que entrou a tempo na plataforma TMS (Transfer Matching System) da FIFA não chegou depois à Liga Portugal, o que acabou por inviabilizar a inscrição do jogador à meia-noite. Para já sobra a dúvida sobre o futuro do avançado, com essa premissa atual de que o jogador não faz parte da lista de inscritos do Sporting. Mais: ao contrário do que aconteceu com Adrien em 2018, quando viu a transferência para o Leicester falhar por um par de minutos, Jota Silva iria chegar a Alvalade na condição de emprestado e não em definitivo.
Antes, durante o dia ainda, esteve em cima da mesa a possibilidade de haver uma contratação que bateria todos os recordes no clube e em Portugal: Kevin, brasileiro do Shakhtar que é considerado em Alvalade como um prodígio de “retorno fácil” mas que acabou por rumar ao Fulham por mais do que os 40 milhões sugeridos pelos leões, também por preferir rumar à Premier League. O espanhol Yeremay foi outro dos namoros de verão, com a intransigência do Deportivo a fazer cair a ideia. A ideia era clara: além de Jota Silva, que era uma pasta à parte, ou vinha algum dos alas referenciados como Kevin ou Yeremay (outro nessa short list era Konstantelias, com o PAOK a pedir demasiado) ou era preferível não chegar ninguém. No final, nem um, nem outro. E Rui Borges terá dificuldades extra pelo menos até janeiro tendo em conta esse número mais reduzido de opções ofensivas que possam acompanhar os avançados Luis Suárez e Ioannidis.