A menos de um mês disponível nas farmácias, a Olire teve sua venda liberada após a queda de patente, o que permitiu preços mais competitivos no mercado. À base de liraglutida, um análogo do hormônio GLP-1, responsável por auxiliar no controle do apetite e na regulação da glicose, o medicamento já é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tanto para o tratamento do diabetes tipo 2 quanto, em doses específicas, para o manejo da obesidade.

Nos últimos dois anos, a indústria farmacêutica avançou significativamente no desenvolvimento das chamadas canetas emagrecedoras. O mercado brasileiro de medicamentos injetáveis está em plena expansão, impulsionado pelo crescimento das doenças crônicas, especia

lmente a obesidade. Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, a previsão é de que, em 2025, cerca de 31% da população adulta brasileira, o equivalente a um em cada três adultos, viva com obesidade.

Além disso, 68% dos brasileiros apresentam excesso de peso, sendo 37% classificados com sobrepeso. Nesse cenário, a chegada de uma nova versão da liraglutida promete ampliar o acesso ao tratamento. Estimativas do Goldman Sachs indicam que esse nicho de mercado poderá movimentar US$ 100 bilhões anuais até 2030.

Como funciona? 

A liraglutida é indicada para adultos com sobrepeso associado a comorbidades ou com obesidade instalada. A aplicação é feita por via subcutânea, geralmente uma vez ao dia. O uso também é autorizado para adolescentes a partir de 12 anos no tratamento da obesidade e de doenças associadas, como a dislipidemia (colesterol alto).  “Vejo que em pouco tempo a liraglutida poderá estar disponível no SUS”, afirma Renato de Araujo Pereira, cirurgião do aparelho digestivo e especialista em tratamentos de obesidade da Clínica Bels.

Como a Olire se diferencia de outras opções?

No mercado, já existem medicamentos como Ozempic e Wegovy, ambos à base de semaglutida. Eles oferecem a vantagem da aplicação semanal, menor incidência de efeitos gastrointestinais e perda de peso entre 10% e 15%. Já o Mounjaro, à base de tirzepatida, combina ação em dois hormônios (GLP-1 e GIP), potencializando a redução de peso para 15% a 20%.

A liraglutida (Olire), embora exija aplicação diária e possa causar efeitos como náuseas e constipação, apresenta eficácia comprovada. Estudos indicam redução de 5% a 8% do peso corporal com o uso contínuo.

Todos esses medicamentos têm aprovação da Anvisa para tratamento da obesidade. O Wegovy é exclusivo para emagrecimento, enquanto Ozempic e Mounjaro são indicados principalmente para diabetes, mas podem ser prescritos para obesidade em uso off-label, sempre com acompanhamento médico.

O peso da obesidade no Brasil

Dados do Ministério da Saúde revelam que cerca de 75 milhões de brasileiros têm sobrepeso ou obesidade, incluindo 5,7 milhões de crianças entre 5 e 9 anos — o que equivale a uma em cada três nessa faixa etária. “A obesidade é uma preocupação crescente e reforça a urgência de políticas públicas e educativas que incentivem a reeducação alimentar e a prática de atividade física como base do combate à doença. Há consenso de que hábitos saudáveis e alimentação equilibrada são fundamentais para o sucesso do tratamento”, destaca o especialista.

Uso indiscriminado preocupa entidades

Em nota conjunta, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) alertam para os riscos do uso indiscriminado dessas medicações. A preocupação é tanto com a segurança da população quanto com a possibilidade de restringir o acesso dos pacientes que realmente necessitam do tratamento.

“Qualquer um desses tratamentos só terá sucesso pleno com acompanhamento médico contínuo. Sem orientação adequada, existe o risco de reganho de peso. A reeducação alimentar e o apoio de uma equipe multidisciplinar são essenciais para garantir a manutenção dos resultados e cuidar integralmente da saúde do paciente”, reforça Renato.