O Hospital Israelita Albert Einstein iniciou um estudo clínico de uma tecnologia que permite diagnosticar câncer em tempo real durante procedimentos cirúrgicos. O dispositivo portátil MasSpec Pen System identifica a assinatura molecular dos tecidos e fornece resultado em até 90 segundos, o que permite o cirurgião avaliar imediatamente se o tecido é cancerígeno ou saudável.

Funcionamento e metodologia do estudo

Durante a cirurgia, a ponta da caneta é aplicada sobre o tecido a ser analisado. Uma gota de água estéril coleta moléculas da superfície, que são aspiradas para análise imediata no espectrômetro de massas. O sistema utiliza inteligência artificial para comparar o perfil molecular com um banco de dados e entrega o diagnóstico rapidamente.

O estudo terá 24 meses de duração e incluirá 60 pacientes oncológicos, sendo 30 com câncer de pulmão e 30 com câncer de tireoide. A escolha desses tumores se baseia em critérios de acessibilidade cirúrgica, complexidade diagnóstica intraoperatória e maturidade do algoritmo para identificação.

Os resultados obtidos serão comparados ao exame anatomopatológico, considerado padrão ouro, para avaliar acurácia, sensibilidade e especificidade. A tecnologia também está sendo testada para detectar biomarcadores imunológicos, com potencial de ampliar a personalização do tratamento.

Experiência internacional e base científica

O dispositivo já foi testado em centros de referência nos Estados Unidos, como Johns Hopkins University, UCLA, MD Anderson Cancer Center e Baylor College of Medicine, em cirurgias de tumores de mama, cérebro, ovário e próstata. Os estudos demonstraram consistência nos resultados e reforçam a validade científica da abordagem.

No Brasil, o objetivo é validar a eficácia do dispositivo em cânceres de pulmão e tireoide e avaliar sua adaptação à prática clínica local.

Perspectivas clínicas

A análise em tempo real pode permitir decisões cirúrgicas mais rápidas e precisas, como definir margens de ressecção e preservar tecido saudável, sem necessidade de biópsias convencionais, segundo os pesquisadores envolvidos.

Kenneth Gollob, coordenador do estudo e especialista em imunologia do câncer, observa que a tecnologia pode tornar os procedimentos mais direcionados, com potencial para melhorar desfechos clínicos. Gustavo Gonçalves Silva, bolsista da Fapesp, destaca a importância da integração entre equipes de pesquisa, diagnóstico clínico e cirurgia para a condução do estudo.

A experiência internacional prévia, combinada com a condução do estudo no Brasil, deve fornecer informações importantes sobre a eficácia do dispositivo e seu potencial para transformar a prática de cirurgias oncológicas no país.