Nada melhor do que assinalar o final de uma guerra que causou milhões de mortes do que mostrar ao mundo que estamos prontos para outra ainda mais devastadora. O Presidente chinês Xi Jinping, usou a comemoração do 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial para enviar uma mensagem ao Ocidente de que a China é “imparável” e “não se deixa intimidar por bullies”.
Ladeado pelo Presidente russo, Vladimir Putin, e pelo Presidente norte-coreano, Kim Jong-un, os mais destacados num conjunto de 26 chefes de Estado que o acompanharam nas comemorações, Xi presidiu a uma gigantesca parada militar em que foi apresentado novo equipamento como armas laser para destruir ou desactivar equipamentos electrónicos, drones submarinos para missões de reconhecimento ou para atacar embarcações e novos modelos de mísseis, entre outras novas peças do arsenal chinês, como relata a BBC.
A par da exibição do poder militar chinês, a imagem nunca antes vista dos três ditadores a conversar e a apertar as mãos enquanto caminhavam pelo tapete vermelho na Praça Tiananmen, num momento de crescentes tensões geopolíticas, falou mais alto que quaisquer palavras, mas Xi Jinping também não se acanhou no discurso.
“Hoje, a humanidade enfrenta novamente a escolha entre paz ou guerra, diálogo ou confronto, ganho mútuo ou soma zero”, disse o líder chinês, citado pelo Guardian.
Xi assegurou que a China “está firmemente do lado certo da história”, mas também frisou que “o povo chinês é um povo que não tem medo da violência, é auto-suficiente e forte”, escreve a Associated Press.
“Seguiremos o caminho do desenvolvimento pacífico e trabalharemos lado a lado com os povos de todos os países para construir uma comunidade com um futuro comum para a humanidade”, afirmou o Presidente chinês enquanto presidia à demonstração de poderio militar.
O desfile durou cerca de 90 minutos e começou com o som ritmado das botas das tropas no pavimento, para serem inspeccionadas por Xi Jinping, que chefia as forças armadas da China como presidente da Comissão Militar Central.
O líder chinês percorreu toda a extensão das formações ao longo da avenida Chang’an, no centro de Pequim, numa limusine preta clássica.
Ergueu-se através do tecto solar do veículo com quatro microfones alinhados à sua frente e cumprimentou os flancos das tropas ao passar por elas e pelas fileiras de armamento e veículos militares, descreveu a Associated Press.
Em retorno, recebeu slogans gritados em uníssono pelos milhares de soldados, como “nós servimos o povo”.
E enquanto esta demonstração de poder se desenrolava em Pequim, em Washington, Donald Trump amuava e, como habitual, recorreu às redes sociais para exibir o seu estado de espírito.
“Que o Presidente Xi e o maravilhoso povo chinês possam ter um dia maravilhoso e inesquecível de celebração”, publicou Trump rede social Truth Social.
“Por favor, transmita os meus calorosos cumprimentos a Vladimir Putin e Kim Jong-Un enquanto conspiram contra os Estados Unidos da América”, acrescentou o líder norte-americano.
Segundo a agência noticiosa russa Tass, Yuri Ushakov, um dos principais assessores de Putin e um dos homens que o acompanhou no Alasca, garantiu prontamente que os três líderes mundiais “não estão sequer a pensar em conspirar contra os EUA”, e que todos percebem bem o papel do país “na actual situação internacional”.
Ouvido pelo Guardian, Wen-Ti Sung, membro não residente do Global China Hub do Atlantic Council afirmou que “Pequim está a enviar uma mensagem” e a mostrar que “mesmo que os países ocidentais continuem a sancionar a Rússia pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia, Pequim não terá medo de apoiar o seu amigo”.
Putin aproveitou o encontro em Pequim para convidar o seu aliado Kim Jong-un para uma visita à Rússia.
De acordo com o site do Kremlin, a seguir à recepção na capital chinesa para as comemorações oficiais, Putin e o seu homólogo norte-coreano viajaram juntos na limusina blindada do Presidente russo para a residência oficial de Diaoyutai, que recebe os chefes de Estado que visitam Pequim, para conversações bilaterais.
Calcula-se que Kim Jong-un tenha enviado para combater na Ucrânia ao lado dos russos cerca de 15 mil soldados norte-coreanos. Vladimir Putin aproveitou o encontro para salientar a “bravura e heroísmo” dos militares norte-coreanos e agradeceu a Kim Jong-un por ter participado na “luta comum contra o neonazismo moderno”.
“Faremos tudo ao nosso alcance para ajudar a Rússia”, prometeu o líder da Coreia do Norte.