O Benfica piscou o olho a João Félix e ao Chelsea, mas o jogador português e o clube inglês não viram: estavam ofuscados pelo brilho das notas da Arábia Saudita. É por isso que nesta segunda-feira se confirmou a ida do jogador para o Al Nassr, da Arábia Saudita, que vai pagar ao Chelsea cerca de 50 milhões de euros para ter um jogador que continua eclipsado.

O jogador já treinou com a nova equipa (vídeo em baixo), apesar de ainda não haver anúncio oficial que deixe registadas em acta as verdades ditas em primeiríssima mão pelo “informador” oficial do futebol mundial, Fabrizio Romano.

Ficou assim cancelado o regresso de Félix a Portugal – seria qualquer coisa como “negócio cancelado por motivos financeiros”, caso um comunicado oficial tivesse de ser lançado pelos “encarnados” a respeito do negócio. Cancelado porque o Chelsea exigiu uma quantia que o Benfica não pode pagar pela transferência? Ou porque Félix exigiu um salário que o Benfica não pode oferecer? Pode ser uma das hipóteses – ou ambas.

Já o clube londrino consegue não só colocar um excedentário como reaver praticamente tudo o que investiu no jogador – o Benfica terá oferecido cerca de metade. Certo é que, aos 25 anos, o jogador português abdica do futebol de primeira água e vai jogar para Jorge Jesus, ao lado de Cristiano Ronaldo.

O possível regresso de Félix ao Benfica não foi uma narrativa ficcional. Bruno Lage abordou o tema e falou de amor: “É um jogador especial para o Benfica e um jogador especial para mim”. Rui Costa também mostrou ter muito colo para dar ao menino da formação: “Podendo trazer a casa jogadores da nossa formação e que tenham qualidade para jogar no Benfica, todos gostaríamos.

Caso estas pareçam declarações vagas, insuficientes e tomadas pela emoção, o próprio Félix tratou de dar clareza a tudo isto: “O Bruno Lage é um mister que eu conheço e que foi importante para a minha carreira, ganha pontos na decisão”. Que decisão? O jogador esclareceu, para nada ficar na especulação. “Claro que vejo com bons olhos voltar ao Benfica e é, se calhar, para onde estou mais inclinado. Sinto que preciso de estar em casa”, disse a 5 de Julho, aos microfones da CMTV, referindo-se ao colo que lhe saberia bem nesta fase da carreira.

Depois de 23 rotações da Terra sobre si própria, a inclinação mudou e o colo não foi, afinal, o valor mais importante.

A selecção e o Mundial

Alguns dirão que Félix está a abdicar da carreira internacional, mas isso aplica-se apenas a nível de clubes – não consta que Roberto Martínez tenha especial pudor em chamar gente dos futebóis das arábias, como Ronaldo, Rúben Neves, Cancelo ou Otávio.

A selecção nacional não é, portanto, uma porta fechada para João Félix, que não só pode manter o seu lugar como habitual suplente como até pode subir um escalão: Ronaldo gostará de replicar na selecção uma eventual boa dupla que faça com Félix no clube.

Outro detalhe relevante é que, na Arábia Saudita, Félix tem, em teoria, um lugar cativo no “onze” e possibilidade forte de marcar golos e fazer assistências. Daí que chegar ao Mundial 2026 com confiança seja mais provável a jogar por ali do que em qualquer clube europeu que dispute a Champions.

Para isso acontecer, Félix terá de convencer Jorge Jesus. Não consta que seja um treinador que aceite facilmente uma ética de trabalho inferior aos seus padrões, pelo que o parco esforço diário atribuído a Félix em vários clubes não será, em teoria, uma boa ideia para o português replicar nos treinos de Jesus.

Aos 25 anos, Félix soma mais uma viagem: Benfica, Atlético de Madrid, Chelsea, Barcelona, novamente o Chelsea e AC Milan – desde que saiu de Portugal, em nenhum deles foi extraordinário, mas em quase todos eles teve bons períodos aqui e acolá, sobretudo no início dessas aventuras.

No Al Nassr tem uma motivação adicional além das notas coloridas: os títulos. O clube saudita ganhou pouco mais do que nada desde que levou Ronaldo para lá, pelo que Jesus e Félix serão, em teoria, suficientes para se vencer qualquer coisa.

E Félix chegar ao Mundial com golos, assistências, confiança, ritmo de jogo (mesmo naquele futebol), títulos e uma boa dupla com Ronaldo já não é coisa pouca.