Em 1970, o cientista Lionel W.C. Filewood, que deu grandes contributos para o estudo de tubarões e raias da Papua-Nova Guiné, recolheu um tubarão perto da foz do rio Gogol, na província de Madanga, no norte desse mesmo país na região oriental do Pacífico Sul.
Três anos mais tarde viria esse tubarão viria a ser descrito como uma nova espécie (e também um novo género), de nome Gogolia filewoodi, em homenagem ao local onde foi encontrado e ao seu descobridor.
Acontece que, desde então, não foram identificados quaisquer outros tubarões dessa espécie, apesar dos esforços que foram empreendidos para consegui-lo. Na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, o G. filewoodi está classificado com o estatuto de “Informação Insuficiente”, precisamente devido à falta de indivíduos que possam ser cientificamente estudados.
Contudo, um estudo realizado pela organização WWF da Papua-Nova Guiné junto de comunidades piscatórias e nos mercados desse país na região de Madang resultaram na redescoberta do raro tubarão. Curioso é o facto de as equipas não estarem à procura do animal, mas sim a realizar um levantamento das espécies de tubarões e raias que serviria de base para o plano nacional de Papua-Nova Guiné para proteger esses elasmobrânquios.
Entre fevereiro de maio de 2020, foram identificadas cinco fêmeas da espécie que haviam sido capturadas exatamente no mesmo local onde, cinco décadas antes, fora descoberta pela primeira vez.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Journal of Fish Biology’, os investigadores relatam que os cinco animais foram apanhados em março desse ano perto da foz do rio Gogol, a uma profundidade de 80 metros, por um pescador que usava linha e anzol. Os tubarões tinham todos menos de um metro de comprimento e apresentavam a característica barbatana dorsal com uma base alongada.
Dois anos depois, em setembro, um outro G. filewoodi fora capturado, no mesmo local, mas a uma profundidade de 200 metros. Era um macho, o primeiro alguma vez cientificamente registado.
Apesar de há décadas os cientistas andarem em busca do elusivo tubarão, os pescadores locais dizem que é frequente apanharem, sem intenção, exemplares da espécie quando pescam na Baía de Astrolábio, onde desagua o Gogol. As capturas tendem a acontecer sobretudo entre março e julho e entre agosto de novembro.
No artigo, os investigadores explicam que a carne de G. filewoodi não é especialmente apreciada como alimento e que as barbatanas não têm qualidade suficiente para entrarem no comércio de barbatana de tubarão.
Uma vez que parece estar limitado a uma área muito pequena, acredita-se que esse tubarão é um “microendemismo” da Baía de Astrolábio, para onde corre o rio Gogol. Como tal, e embora ainda não haja dados suficientes para avaliar o seu estado de conservação, os autores deste trabalho sugerem que a captura acidental pode ser um fator de ameaça para esta espécie de tubarão, não só porque parece haver um aumento da pesca nessa zona, mas também porque “espécies raras e endémicas estão vulneráveis à extinção devido à sua distribuição limitada e ao aumento das ameaças antropogénicas nos seus habitats”.
Como tal, os especialistas apelam à realização de mais estudos sobre os G. filewoodi, dizendo mesmo que a espécie poderá vir a ser considerada “um importante ícone da biodiversidade marinha da Papua-Nova Guiné”.